Reconhecimento facial ocupa cada vez mais o lugar das combinações numéricas

Felipe Boutros
fboutros@hojeemdia.com.br
26/11/2017 às 14:30.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:54
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Antes de finalizar qualquer transação bancária pelo aplicativo no smartphone, o analista de marketing digital Julio Cesar Ferreira, de 35 anos, tira uma selfie. Mas a “foto” não é por vaidade. Ela substitui o uso de senha para validar a operação. O recurso, oferecido pelo banco virtual Neon, é uma tendência no setor bancário e outros segmentos que necessitam de reconhecimento e autenticação de dados dos usuários que, cada vez mais, irão utilizar a biometria no lugar das tradicionais combinações numéricas.

“Essa é a facilidade oferecida pela tecnologia. O reconhecimento simples traz comodidade e eu não vejo a possibilidade de fraude com esse sistema”, resume Ferreira.

A combinação de funcionalidade e segurança é o pilar no desenvolvimento e na oferta desse tipo de recurso para os clientes das instituições financeiras. O diretor de Design e Produtos do banco Neon, Daniel Benevides, explica que o processo de autenticação, por meio do uso de token (ou chave eletrônica) é maçante e a possibilidade de fazê-lo com a selfie torna a experiência mais atrativa. Além disso, essa opção traz outra vantagem.

“A gente investe em tecnologia pra reduzir custo. Parece um paradoxo, mas estamos criando um banco virtual e isso só é possível graças a esses recursos. Em uma visão geral, o uso deles tende a baixar os custos”, explica Benevides.

A tecnologia utilizada pelo Neon é fornecida pela Visa. De acordo com a empresa, em agosto, o banco autenticou de forma segura nove de dez transações realizadas pelos clientes no e-commerce, considerando todos os tipos de autenticações disponíveis – selfie, biometria por digital e senhas.

Autenticação

Hoje, a média de autenticação do mercado brasileiro é de apenas quatro em cada dez pedidos de confirmação de compra. O reconhecimento facial foi utilizado em 58,4% das vezes. 

Mas outros processos ainda são utilizados pelos clientes: a biometria digital alcançou 9,4% das transações, enquanto a utilização da senha tradicional foi empregada em 32% dos casos.

Para o diretor de Produtos da Visa, Alessandro Rabelo, as empresas devem oferecer diversas opções e caberá ao cliente optar pela qual lhe agradar mais. Mas ele ressalta que nenhuma irá se sobrepor à outra e as senhas tradicionais continuarão tendo espaço, com prós e contras.

“O uso de outros métodos reduz o risco de fraude. Quando você usa a senha, ela deixa de ser só sua. Com a íris ou a impressão digital, não é tão simples. E o sistema evoluiu de uma forma que não permite, por exemplo, um dedo de gelatina para fraudar a digital. Mas se cada instituição usa um método alternativo diferente, todas estão preparadas para usar senha”, diz o diretor da Visa.

Compromissos

Especialistas explicam que existe um paradoxo entre aliar segurança e comodidade, já que, ao incrementar o primeiro, o segundo pode ficar comprometido. Para isso, novas tecnologias estão sendo constantemente testadas para que a autenticação seja permanente e, ao mesmo tempo, pouco invasiva para o usuário.

O diretor comercial para Enterprise & Cybersecurity da Gemalto na América Latina, especializada em segurança digital, Sérgio Muniz, explica que os bancos já estão testando a biometria comportamental. Esse processo faz um histórico do usuário levando em conta desde itens triviais, como transações e valores mais comuns, até padrões como a forma que o usuário digita no teclado do smartphone, considerando, inclusive, a pressão que ele faz sobre a tela sensível ao toque.

“Em alguns casos, nos quais o sistema certifica diversos parâmetros como confiáveis, ele até dispensa formas adicionais de autenticação”, afirma Muniz. Até cinema e teatro poderão ser pagos com os novos dispositivos 

Instituições tradicionais também buscam inovações para facilitar a vida dos usuários. O Santander, por exemplo, lançou no mercado dispositivos – uma pulseira e um adesivo – que permitem o pagamento por aproximação. Ou seja, o cliente não precisa tirar o cartão do bolso e nem digitar a senha (ou outro método de autenticação) para transações de até R$ 50.

O superintendente executivo de Cartões do Santander, Rodrigo Cury, ressalta que a oferta dos novos produtos foca na experiência do usuário que procura praticidade. Ele exemplifica que motociclistas, por exemplo, poderão pagar o pedágio debitando o valor diretamente da conta utilizando a pulseira.

Além disso, a ideia é que esses recursos funcionem como dispositivos de acesso a cinemas e teatros, entre outros, sem a necessidade de usar qualquer meio tradicional de pagamento. A perspectiva é que esses novos dispositivos sejam integrados a objetos cotidianos, como relógios. 
“Tem cliente que praticamente abandona o cartão de crédito. Mas caso ele escolha isso, tem que ser capaz de fazê-lo”, diz Cury.

Outros usos

Além dos bancos, o uso de reconhecimento facial, por exemplo, já é utilizado pela companhia aérea Gol no que eles chamam de “Selfie Check-in”. Com o novo recurso, quem vai viajar não precisa mais digitar seus dados para emitir o cartão de embarque. Antes, para realizar o check-in pelo aplicativo, o cliente tinha que fazer login, digitar o localizador do voo e preencher dados básicos de identificação. Só após o processo o sistema liberava a escolha de assentos e o cartão de embarque.

Depois que o recurso de reconhecimento facial foi implementado, o cliente digita os dados uma única vez ao cadastrar o rosto no aplicativo. Na hora do check-in, basta fazer uma selfie para emitir o cartão de embarque do voo mais próximo em nome do cliente.

“Os consumidores estão cada vez mais exigentes e conectados e envolvidos com diferentes experiências. O objetivo de introduzir novas tecnologias, como o Selfie Check-in, é tornar o processo de check-in mais simples para o usuário da Gol”, diz o diretor de Tecnologia da empresa, Paulo Palaia.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por