Retomada da economia e reformas podem ser adiadas

Filipe Motta
Hoje em Dia - Belo Horizonte
14/04/2017 às 19:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:08

O tsunami causado pelas revelações sobre os supostos repasses da Odebrecht a um grande leque de lideranças e legendas partidárias deverá diminuir a velocidade da tramitação das controversas reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer (PMDB) e, ao mesmo tempo, amenizar o ímpeto da retomada de investimentos no Brasil, avaliam analistas e parlamentares. 


Só o fato de nove ministros do governo estarem na berlinda, reduz a capacidade de articulação de Temer, ainda que busque vender o contrário. 

Além disso, o aumento do desgaste da imagem da classe política pode reverberar em votos contrários a medidas impopulares, já que grande parte dos parlamentares é candidata à reeleição e está na lista negra da “Lava Jato”, pondera o cientista político Lucas Cunha, da UFMG.
“Não quer dizer que a base de Temer deixa de existir. Mas a insegurança em relação ao apoio ao governo aumenta”, afirma. 


Na tentativa de conter a ânsia dos parlamentares com o rebuliço das delações, Temer passou o fim de semana articulando o andamento da reforma da Previdência com deputados e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Também pesa na redução da velocidade de tramitação das reformas o preparo das defesas dos envolvidos. 

Lenha

O professor de economia Pedro Paulo Pettersen, da PUC-MG, avalia que a lista de Fachin fragiliza ainda mais a situação econômica. “A lista tende a agravar o principal componente da crise que é o político. Postergamos a recuperação da economia ao colocar ainda mais lenha na fogueira”, afirmou.

Pettersen defende que, dado o quadro de instabilidade, o ideal seria a suspensão da votação das reformas da Previdência e Trabalhista, ao menos neste momento, para a construção de saídas para a crise política que, segundo ele, é a situação mais grave a ser resolvida no curto prazo. “A questão da Previdência merece ser debatida, mas o seu impacto é fundamentalmente no médio prazo”, diz. 


“É preciso a rearticular o pacto com a sociedade, o que poderia acontecer com a antecipação das eleições, bem como por uma constituinte exclusiva para a reforma política”, propõe Pettersen.

Contraponto
O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG), não acredita em paralisação total. “O Parlamento não pode parar. As denúncias são graves, mas todos os envolvidos tem direito à defesa”. 
Mas para Ramalho, a reforma da Previdência não deve passar porque, mesmo desconsiderando a “Lava Jato”, já é impopular. “Essa reforma atual não tem voto. O governo precisa fazer uma nova proposta e ela deve ser discutida com a sociedade. Não pode ser a ferro e fogo”, critica. 


Por outro lado, Ramalho vê abertura da reforma trabalhista avançar. “O Brasil tem muitos desempregados e essa reforma consegue destravar problemas para que isso seja alterado”, justifica o vice-presidente da Câmara.
Apesar de pertencer ao mesmo partido de Temer, Ramalho, assim como outros deputados da base, posicionaram-se contra algumas medidas econômicas e estruturais apresentadas pelo governo.

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