Saúde particular ao custo de R$ 40 bi

Janaína Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
22/04/2016 às 13:56.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:04
 (Flavio Tavares/Hoje em Dia)

(Flavio Tavares/Hoje em Dia)

No momento em que você estiver lendo essa matéria, provavelmente os custos com a saúde suplementar no país terão atingido mais de R$ 40 bilhões este ano. A informação é do “Custômetro”, ferramenta on-line lançada pela Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), uma das entidades que representa as operadoras. 

O instrumento, que mostra em tempo real o desembolso do setor com despesas assistenciais, foi inspirado no “Impostômetro”, painel da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que calcula o valor total pago em impostos pelos brasileiros.

Segundo o diretor-executivo da Abramge, Antonio Carlos Abbatepaolo, o objetivo do painel eletrônico é dar transparência aos valores gastos no cuidado com o paciente. “A intenção é que as pessoas tenham uma visão melhor do funcionamento do setor. É um sistema educativo. Geralmente, o espaço que se tem na mídia é sobre reclamação dos serviços e preços altos das mensalidades. Queremos mostrar que as empresas têm que incorporar muitos custos, e que o lucro não é alto”, diz. 

Anualmente, o setor gasta aproximadamente R$ 128 bilhões. O diretor-executivo da Abramge chama a atenção ainda para o fato de que, a cada R$ 100 pagos, R$ 85 vão para os custos assistenciais, ou seja, o equivalente a 85%. Há 20 anos, eram R$ 67. Os 15% restantes da receita são divididos entre despesas administrativas e comerciais, taxas e impostos. 

Além disso, Abbatepaolo afirma que 25% do que é gasto no setor de saúde é desperdiçado com absenteísmo (faltas em consultas) e próteses, cirurgias, exames e internações desnecessárias. A alta taxa de judicialização também é citada como prejudicial à saúde financeira das operadoras. Segundo ele, o setor sofre uma perda de R$ 10 bilhões com ações judiciais. 

Para a advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Joana Cruz, o “Custômetro”mostra a informação de um único ponto de vista. “Se o objetivo era dar transparência, poderiam instalar o ‘lucrômetro’ ou o ‘subsidiômetro’, por exemplo”, critica. 

O placar do “Custômetro” é alterado a cada segundo. De acordo com a Abramge, só nesse pequeno intervalo de tempo R$ 4 mil são gastos para cobrir despesas assistenciais 

 Editoria de Arte 

Clínicas populares surgem para quem não quer plano ou SUS

Com o aumento do desemprego, mais de um milhão de pessoas deixaram de ter a carteirinha do plano de saúde só em 2015. O aperto financeiro e a escalada da inflação também tornaram mais difícil o exercício de encaixar no orçamento as mensalidades cobradas pelas operadoras. Para atender ao público que já não consegue arcar com os custos da assistência privada, mas também quer escapar das longas filas do SUS, surgem no mercado as chamadas clínicas populares. 

Com investimento de R$ 3 milhões, em fevereiro deste ano foi inaugurada a Uniclínica, em Venda Nova. O preço da consulta vai de R$ 70 (clínico geral, pediatria, dermatologia etc) a R$ 90. 

“Em clínicas particulares tradicionais, o paciente paga entre R$ 250 e R$ 500. Já no SUS, o tempo médio para marcação de consulta é de seis meses, mas pode chegar a três anos. E a demora pode alterar o quadro de saúde da pessoa”, diz o médico Octaviano Cruz, um dos três sócios do empreendimento. 

Os exames começam a partir de R$ 4, caso do hemograma. A mamografia custa R$ 40 e a endoscopia, R$ 200. “Não gosto de dizer que nosso atendimento é só para as classes mais populares. Com o aumento do desemprego, cresce o número de pessoas das classes A e B que buscam alternativas mais baratas e com qualidade para cuidar da saúde”, diz Cruz. 

Tanto é que, apesar da crise, o grupo espera o retorno do investimento em dois anos. A capacidade da Uniclínica é para realizar 500 consultas/dia e até mil exames diariamente.

Outra novata no mercado é a Clínica +60, especializada no tratamento e cuidado preventivo de idosos de baixa renda. Instalada no bairro Barro Preto, com investimento de R$ 1 milhão, a unidade oferece consultas a partir de R$ 150. 

“É uma clínica de baixo custo, para quem não pode pagar um plano e não quer enfrentar as filas do sistema público”, diz o médico Fernando Assunção, que tem como sócios no empreendimento o geriatra Estevão Alves Valle e o clínico e nefrologista Geraldo Camargo Neto. 

Segundo Assunção, a realização do sonho dos três foi possível graças ao apoio da Artemisia, incubadora de negócios de impacto social. A Matermed, que neste ano deixou de comercializar planos, também apostou as fichas no novo nicho, com consultas a partir de R$ 50.

Os dados do “Custômetro” ainda não são apurados de forma regionalizada. Entretanto, segundo a Abramge, é possível inferir, a partir da população coberta por plano de saúde por Estado, que aproximadamente 11% das despesas assistenciais, o equivalente a cerca de R$ 3,4 bilhões, se referem a beneficiários de Minas Gerais 

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