Taxa de empreendedorismo é a maior dos últimos 14 anos

Da Redação
Hoje em Dia - Belo Horizonte
21/03/2016 às 09:29.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:52
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Com a falta de perspectivas de voltar para o mercado de trabalho, muitos brasileiros que perderam o emprego nos últimos dois anos têm investido o dinheiro da rescisão em negócios próprios. Prova disso é que quatro em cada dez brasileiros adultos já possuem empresa ou estão envolvidos com a criação de uma, segundo pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), patrocinada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

A taxa de empreendedorismo no país em 2015 atingiu o maior índice dos últimos 14 anos. Especialistas concordam que a iniciativa pode ser, sim, uma saída para a crise, mas, em meio a tantas incertezas da economia, não basta vontade e dinheiro para empreender.

Hoje, 44% empreendem por necessidade – se veem forçados a montar um negócio – e 56% por oportunidade – têm dinheiro e estudam para identificar boas chances de negócio. Em 2014, 30% empreenderam por necessidade e 70% por oportunidade.

“O ideal é que a empresa seja aberta por oportunidade, quando o indivíduo faz planos, análises de mercado e da concorrência, busca orientação. No contraponto, empresas abertas por necessidade nos preocupam. Em momentos de crise, é preciso agir com cautela”, afirma o superintendente do Sebrae Minas, Afonso Rocha.

Segundo ele, a pesquisa alerta também para o fato de os negócios recém-abertos serem “mais do mesmo”.“Especialmente no caso dos Micro Empreendedores Individuais (MEIs). São perfis que utilizam baixa tecnologia e têm muitos concorrentes, como comércio de roupas e lanchonete. Nada de muito inovador”.

Franquias

Muitos empreendedores apostaram na franquia com o opção de negócio em 2015. De acordo com dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o segmento teve um aumento de 10,1% no número de franquias, o que corresponde a 12.702 novas unidades.

“Muita gente acha que é um negócio sem riscos, mas não é totalmente seguro, como toda empresa. O que percebemos é que as franquias têm um índice de fechamento menor do que um negócio que começa do zero”, explica o especialista em gestão de negócios e gerenciamento de projetos Luciano Lugli.

Ele lembra que o modelo de franchising não é o ideal para quem sai do emprego decidido a não seguir mais regras e, por isso, investe numa empresa própria. “O franqueado tem que cumprir regras da franqueadora, não pode mudar algumas coisas. Se o empreendedor quer 100% de liberdade, investir numa franquia é um grande risco e um indício de que dificilmente a parceria vai dar certo”.

O superintendente do Sebrae Minas alerta para a necessidade de se inteirar sobre as exigências do franqueador antes de assinar o contrato. “É preciso analisar todas as condições impostas. Em alguns casos, o franqueador pode te colocar numa camisa de força. Uma vez assinado o contrato, não tem saída”, disse Rocha. “O importante é planejar, caso contrário abrir um negócio pode ser suicídio”, completou.

Demitidas, irmãs abriram a esmalteria dos sonhos

Raquel era coordenadora de eventos de um hotel, Daniela, professora universitária. Além de irmãs, tinham em comum a vontade de abrir um negócio juntas e o sentimento de que os efeitos da crise se aproximavam. O “plano B” foi apostar no setor considerado pelo Sebrae um dos mais promissores para investir em 2016, o de beleza.

Pegando carona na moda do serviço especializado em cuidado para as unhas, Daniela e Raquel Montandon, de 31 e 41 anos, abriram, em dezembro do ano passado, a “Espelho, Espelho Meu!”, esmalteria no Centro de BH. O investimento de R$ 16 mil foi suficiente para abrir a loja de 12 metros quadrados, dentro de uma galeria na rua Rio de Janeiro.

“Em apenas dois meses fizemos todos os estudos necessários, definimos o público que queríamos atingir e encontramos o ponto ideal. O custo é muito mais baixo do que abrir um salão de beleza completo, por exemplo. E as pessoas estão gostando de frequentar um local que tem dedicação integral para as unhas. São mais de 400 cores de esmaltes e todo tipo de enfeite e cuidado: pelúcia, pintura manual, gel, unhas de caviar e por aí vai”, conta Raquel.

O curto tempo de funcionamento ainda não permitiu às irmãs terem lucro. Mas elas já traçam um plano para crescer e faturar mais. “Nesses últimos meses pagamos despesas, enquanto fazíamos a clientela. Nossa meta é trabalhar com pelo menos dez serviços diferenciados, como a unha de gel”.

De consultora a dona de delivery de comida saudável

A busca por comodidade e praticidade fazem do delivery um serviço cada vez mais atraente para o consumidor e, consequentemente, uma oportunidade para empreender. E foi exatamente a falta de tempo dos médicos que trabalham na área hospitalar, em Belo Horizonte, que motivou a ex-consultora de Qualidade Heloísa Rolim, de 55 anos, hoje empresária, a abrir um negócio de entrega de comida saudável na capital.

“Hoje, 80% dos meus clientes são médicos que trabalham na região Centro-Sul. A ideia surgiu quando fui a São Paulo e vi muitos restaurantes dedicados a comida saudável. Em BH praticamente não existia. E a área que eu trabalhava havia dez anos estava muito difícil, então resolvi sair e empreender. Isso aconteceu em 2014”, disse.

Segundo Heloísa, o investimento inicial para colocar a ideia em prática ficou em torno de R$ 100 mil. Atualmente, a demanda da Gourmet Delivery BH é de cerca de 50 pratos por dia. Mas ela conta que a crise também bateu à sua porta no ano passado. “O faturamento está voltando a crescer aos poucos”.

Todos os ingredientes utilizados na preparação das refeições são orgânicos. “Adaptamos os pratos às dietas recomendadas para cada cliente, oferecemos alimentação específica para quem está em tratamento médico, fazendo quimioterapia, por exemplo. Por isso, conseguimos boas parcerias com nutricionistas, médicos e executivos”.

A qualidade prezada por Heloísa em sua antiga profissão é essencial para o sucesso de qualquer delivery. Segundo os especialistas, o risco da operação está justamente em frustrar as expectativas do consumidor com atrasos ou entregar alimentos fora do padrão esperado e combinado com o cliente previamente.

Além disso

Na contramão do índice de empreendedorismo crescente no país, em Minas Gerais houve queda de 7% na abertura de empresas até o fim do ano passado. 2015 terminou com 41.839 novos empreendimentos formalizados. Em 2014, 45.112 negócios foram criados, segundo dados da Junta Comercial mineira.O volume de fechamento de empresas no Estado cresceu 21% no período. No ano passado, 26.989 empresas encerraram as atividades, contra 22.380 em 2014.

A capital mineira liderou a abertura de empresas em Minas, com 9.826, seguida de Uberlândia, no Triângulo, com 2.590, Juiz de Fora, na Zona da Mata, com 1.487, e Montes Claros, no Norte, que abriu 1.064 negócios, ficando à frente de Uberaba, também no Triângulo, com 1.062 constituições. Cidades-polos como Betim e Divinópolis registraram, respectivamente, 651 e 617 formalizações.

A percepção é que o mineiro é mais cauteloso na hora de empreender. Ele ainda tem um perfil ligado à formação de carreira dentro de outras empresas.

O Brasil registrou a criação de quase dois milhões de empresas no ano passado. Cerca de 75% delas, ou 1,5 milhão, são de microempreendedores individuais (MEI), segundo dados da Serasa Experian. O alto percentual de MEIs foi gerado por causa do aumento do desemprego, na avaliação do Sebrae.

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