Turismo com foco no café e no vinho ganha força e adeptos em Minas

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
29/12/2017 às 20:40.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:31
 (CAFE CAMPO MÍSTICO/DIVULGAÇÃO)

(CAFE CAMPO MÍSTICO/DIVULGAÇÃO)

Os aromas e sabores despertados por duas das bebidas mais apreciadas pela humanidade agora compõem a cadeia do turismo em municípios do Sul de Minas, gerando renda e riqueza para a economia local. Produtores de café de alta qualidade e de vinhos – o mais novo ouro das montanhas do Estado – começaram a abrir as suas propriedades para a acolhida de pessoas que desejam conhecer o processo de produção e curtir os bons ares das fazendas onde os frutos são produzidos.

Em Carmo de Minas, pequena cidade nas proximidades de São Lourenço, a Rota do Café Especial contempla visitas a uma fazenda fundada em 1891 e que produz “o melhor café do mundo” – nota recorde de 95,85 pontos em um concurso internacional, em 2005, até hoje não superada. Na fazenda Centenária, os visitantes podem fazer passeios pelos cafezais, passar por mirantes a 1.200 metros de altitude e conhecer um museu que conta a história do café. Tudo com direito a degustação, é claro!

“Quando recebemos o título, despertamos a curiosidade de compradores de café do mundo todo, que passaram a procurar a fazenda. O roteiro foi pensado para eles e hoje é aberto para qualquer grupo que queira nos visitar”, afirma Renata Prado, gestora da Rota do Café. Em 2016 foram recebidas 2.500 pessoas na propriedade. Para 2017, a projeção é fechar o ano com crescimento de 20% no volume de visitantes.

Maria Maria

Com uma história marcada pela plantação de café, os produtos da Fazenda Capetinga, em Boa Esperança, também foram premiados.
Mas o prêmio e a visitação vieram mesmo na onda da produção de vinhos finos que tem despontado no Sul de Minas nos últimos anos – desde que uma técnica desenvolvida pela Epamig inverteu a época da poda da uva, favorecendo a colheita durante o inverno e não no verão, aumentando a qualidade dos frutos.

Com uvas plantadas na fazenda, o Sauvignon Blanc Maria Maria - Bel, safra 2015, foi medalha de bronze no prêmio Decanter neste ano, em Londres, e o Syrah Maria Maria - Bia, do mesmo ano, primeiro lugar no Vini Bra Expo 2017.

“Além das videiras, nos passeios à propriedade passamos pelo plantio de hortaliças e café, com direito à almoço e degustação das bebidas”, conta Eduardo Junqueira Neto, um dos proprietários da marca Maria Maria.

Roteiros

De olho no potencial do café e do vinho, agências de turismo locais e da capital têm promovido passeios que contemplam a produção das duas bebidas no Sul do Estado.

A Primotour, por exemplo, realiza viagens de dois a três dias, passando pelas cidades de Andradas e Poços de Caldas, com preços entre R$ 790 e R$ 1.090, por pessoa.

Em Andradas, uma das principais atrações é Vindima, a festa da poda da uva, que acontece em janeiro e agosto. Há degustações de uvas e vinhos, comidas típicas italianas e shows. Há ainda visita à vinícola São Geraldo, uma das maiores do Estado, com direito a almoço, passeio pelas instalações industriais e mais degustações. As visitas também acontecem no restante do ano.

Variedade

Além da Casa Geraldo, outras cinco vinícolas artesanais – Basso, Beloto, J. Bertoli, Muterle, Marcon – recebem visitas ao processo de produção. A quantidade de produtores tem relação com a história da cidade, que recebeu mais de 500 famílias italianas no início do século passado.

“As pessoas se surpreendem muito com a qualidade dos vinhos da região. Elas saem de Belo Horizonte com desconfiança. Mas quando chegamos a Andradas e mostramos a terra, a altitude e o relevo, elas têm contato com a produção, mudam de ideia. Derrubamos o mito de que só há vinhos bons no Rio Grande do Sul e no exterior”, diz o agente de turismo Helder Primo.

Já em Poços de Caldas, os turistas tem contato com o plantio, poda, colheita e torrefação de cafés premium em uma fazenda da cidade.ROTA DO CAFE ESPECIAL/DIVULGAÇÃO

Na fazenda Centenária, em Carmo de Minas, visitantes passeiam pelos cafezais, passam por mirantes a 1.200 metros de altitude e conhecem um museu


Azeites são adicionados à rota dos prazeres no Sul do Estado

Em Andradas, um novo produto premiado do Sul de Minas, o azeite, será adicionado em fevereiro à rota dos prazeres do olfato e paladar que começa a se desenhar na região.

A Fazenda Três Barras Castanhal, onde é feito o plantio de azeitonas das variedades Arbequina, vindas da Espanha, e Grapollo, da Itália, ganhou os holofotes do mundo da gastronomia após ter o azeite Borriello selecionado pelo guia italiano Flos Olei, no ano passado, além de ter sido considerado como um dos melhores blends do país pelo caderno Paladar, do jornal “Estado de S. Paulo”.

“No caso do azeite, é interessante que a demanda para conhecer a fazenda veio dos turistas. Havia uma procura muito grande de pessoas que gostam de gastronomia, que leem e têm conhecimento sobre o assunto. Veio de fora”, conta Janaína Veronese, da agência Viver Viagens, de Andradas, que também realiza os passeios nas vinícolas

A demanda pelas visitas enogastronômicas acaba complementando outras atrações da cidade, conhecida pelo ecoturismo, devido às cachoeiras, pontos de escalada e voos de paraglider, aponta Janaína.

Cafés especiais

De olho nesse público conectado com as novidades da gastronomia, o casal Adriane Freddi e Valmor Santos também recebe visitantes interessados no universo do café, na propriedade da família em Bueno Brandão, extremo Sul do Estado, onde produzem o Campo Místico.

“Plantamos as primeiras mudas há 15 anos e, num determinado momento, passamos a avaliar se valia a pena manter os cafezais. Começamos a estudar a cadeia do café de ponta a ponta, do plantio ao trabalho do barista, passando por colheita e torrefação, e começamos a produzir cafés especiais. A ideia da visitação é abrir os estudos que fizemos para as pessoas interessadas”, conta Adriana.

As visitas, com duração de um dia, acabam funcionando como mini-workshops, muitas vezes com a presença de baristas, chefes de cozinhas e os chamados coffee geeks (como são conhecidos os aficionados por café). “Muita gente trabalha em cafeteria e nunca viu uma planta”, diz Adriana. Ela conta que a as visitas são complementares à renda da propriedade. “A gente vive do café, de consultorias e aulas sobre o assunto, mas elas agregam para a cidade e para a marca”, diz.

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