Uruguai assume posições de vanguarda em uma América Latina conservadora

AFP
18/10/2012 às 21:18.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:21

MONTEVIDÉU - Com a aprovação na quarta-feira (17) de uma lei que permite o aborto com poucas restrições, o Uruguai -que também debate a legalização da maconha- assume a vanguarda da liberalização das políticas sociais em uma região com forte influência católica. Na América Latina só Cuba e Cidade do México autorizam a interrupção voluntária da gravidez, que também é legal na Guiana e em Porto Rico. Todos os vizinhos do Uruguai o proíbem e a chegada de governos progressistas não pôs o tema na agenda política.

A descriminalização do aborto volta a pôr em foco o Uruguai, um país com 3,3 milhões de habitantes que nos últimos meses já chamou atenção com uma proposta polêmica para legalizar a produção e a comercialização da maconha, ainda em estudo no Parlamento. Além disso, nos últimos seis anos o Uruguai também foi o pioneiro da região ao legalizar a união civil de casais homossexuais (2007) e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo (2009). Este ano o governo também habilitou a mudança de nome e sexo e a entrada de homossexuais nas Forças Armadas.

A descriminalização do aborto e o avanço na legislação sobre os direitos dos homossexuais "é uma tendência que mostra que o Uruguai está se posicionando à frente de outros países latino-americanos que, muito provavelmente, seguirão o curso do que está ocorrendo no Uruguai", disse à AFP Felipe Arocena, sociólogo e doutor em Ciências Humanas.

Para Arocena, este momento pode ser uma reedição do ocorrido no começo do século XX, quando o Uruguai como Estado laico desde 1917 foi o primeiro da América do Sul a admitir o divórcio pela vontade exclusiva da mulher (1913) ou a permitir o voto feminino (em um plebiscito local de 1927). Também foi um dos primeiros a abolir a pena de morte (1907). Nessa época também foram aprovadas avançadas normas trabalhistas, como a lei de 8 horas (1915) e de Previdência Social, na década de 1920.

"Parece que estamos retomando a linha que tinha sido um pouco deixada de lado. E estamos saindo do congelador que foi a ditadura (1973-1985), quando todos os avanços nos direitos humanos passaram por um processo de congelamento", sustentou.

Nesta tradição pode ter influência o fato de que "o peso da Igreja é bem menor do que ainda é em outros países", sustentou. "O Uruguai se coloca na vanguarda da América Latina e isso tem a ver, em parte, também com o fato de ser o país mais laico da América Latina", avaliou a senadora governista Constanza Moreira.

Enquanto no Uruguai a Arquidiocese de Montevidéu manifestou, em um comunicado, "sua profunda dor e repúdio" contra a lei que descriminaliza o aborto, em Lima o cardeal Juan Luis Cipriani, nome do Opus Dei na região, clamou diante de uma imagem de Jesus Cristo para que "afaste a praga do aborto do mundo".
 
 
 
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por