Recessão econômica 'derruba' aviação; viagens executivas sofreram a maior queda

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
08/08/2016 às 08:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:14

A recessão impactou em cheio o setor de aviação civil. Em junho, a queda na demanda por voos domésticos foi de 5,9% frente ao mesmo período do ano anterior, completando 11 meses consecutivos de retração.

Desde 2011, a perda de receita acumulada do segmento já é de R$ 10 bilhões, segundo dados da Agência Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

O cenário é exatamente oposto ao que o país viveu no início da década passada, quando o número de passageiros do setor aéreo saltou de 30 milhões, em 2002, para 100 milhões em 2015.

Agora, com a elevação do desemprego e a desaceleração da economia, quase meio milhão de passageiros deixaram de voar na comparação de junho com o mesmo mês do ano passado.

Para piorar, a elevação dos custos contribui para deteriorar ainda mais as contas das companhias. A desvalorização cambial é o principal motivo e afeta cerca de 60% dos custos das empresas aéreas, conforme a Abear. O pacote inclui o querosene – combustível da aviação – que responde sozinho por 38% dos custos.



O professor de economia do transporte aéreo da universidade Anhembi Morumbi, Adalberto Febeliano, explica que a maior queda está na demanda de passageiros em viagens de negócios, já que o segmento acompanha diretamente o desempenho da atividade econômica.

“Se eu sou um representante comercial e não estou vendendo, eu simplesmente não vou visitar meu cliente”, explica.

De acordo com a Abear, as companhias estão sendo obrigadas empreender ações com vistas à eficiência, adequando a oferta de voos (frequências e destinos) e a quantidade total de assentos disponíveis à demanda das cidades atendidas. O resultado é o corte de capacidade e, por consequência, a elevação dos preços das passagens aéreas.

“Quando há um problema de demanda, as aéreas cortam a oferta (de voos). Então, com os aviões andando mais cheios, o preço acaba sendo elevado”, destaca o professor.



Na avaliação do presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, o crescimento observado de 2002 a 2014 só deverá ser visto novamente no fim do ano de 2017, considerando dados do mercado de aviação nacional e internacional.

"A oferta segue em retração e já caiu mais de 10% ao longo do ano. Portanto, as empresas tomam duas atitudes básicas. A revisão dos custos e da malha aérea, com a eliminação de voos que se tornaram economicamente inviáveis”, explica.

Para o professor Adalberto Febeliano, as perdas do setor poderiam ser ainda maiores, não fosse o fato de a aviação já fazer parte da cesta de consumo do brasileiro.

“Historicamente, a elasticidade/renda da demanda do transporte aéreo era de duas vezes. Com a queda de 6% do PIB, deveríamos ter uma queda de 12% na demanda aérea. No entanto, isso não está acontecendo, o que demonstra que voar deixou de ser um item supérfluo e se tornou um item de alta necessidade”, analisa Febeliano.



Sem a expectativa de melhorias no curto prazo, as companhias aéreas ainda precisam conviver com gargalos que há décadas impedem o crescimento do setor no país. A elevação de custos atrelados ao dólar, como financiamento de aeronaves, manutenção e combustível, e a inflexibilidade das regras nacionais, muito distantes das normas praticadas em outros países, estão entre os principais entraves.

Hoje, por exemplo, passageiros que transportam apenas uma bagagem de mão pagam o mesmo valor para voar do que aqueles que viajam com uma ou duas malas. Na Europa e nos Estados Unidos, o usuário paga apenas pelo serviço que usa, o que caracteriza um ambiente de maior justiça tarifária segundo especialistas brasileiros em aviação.

Além disso, o enfraquecimento do mercado brasileiro afeta também rotas internacionais. Duas empresas aéreas asiáticas já estudam sair do mercado brasileiro alegando que as rotas estariam deficitárias. A Korean Airs e Singapore Airlines devem encerrar as atividades no país após o término das olimpíadas.



Além das asiáticas, outras empresas aéreas saíram do mercado brasileiro há pouco tempo. A chilena Sky encerrou as atividades no país em março. A Taag, de Angola, também reduziu a frequência de voos no Brasil e a American Airlines reduziu voos que partiam do Brasil diretamente para Miami.

Por meio de nota, a Latam informou que projeta para o mercado brasileiro uma redução de 10% a 12% na sua oferta doméstica de voos neste ano. De acordo com a empresa, os ajustes serão feitos “para adequar a sua malha aérea e enfrentar o contexto macroeconômico brasileiro desafiador”.
 

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