Ronaldo Fraga critica falta de articulação política e de parcerias sólidas

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
05/07/2015 às 12:53.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:46
 (Wesley Rodrigues / Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues / Hoje em Dia)

“Me diga o que vestes que te direi quem és!” A frase dita pelo estilista mineiro, considerado por muitos um “poeta da moda”, Ronaldo Fraga, de 48 anos, – o entrevistado do Página Dois de amanhã, no Hoje em Dia – reflete a polêmica sobre a mão de obra escrava na moda.

Um programa norueguês desafiou blogueiras de moda a passar um mês trabalhando em uma fábrica têxtil no Camboja. A foto de uma das garotas, aos prantos, chocada com as condições de vida dos empregados, rodou o mundo. O preço baixo dessas peças, muitas vezes, advém de condições sub-humanas de trabalho. Para Fraga, os produtos que vêm dos países asiáticos trazem muito mais do que tecidos e estampa.

Consumo pelo consumo

“Essas peças trazem a morte de uma cultura, simplesmente, pela produção”, comenta Fraga, que exemplifica: “A estamparia na Índia ainda utiliza – porque é barato – os pigmentos com altíssimo teor de chumbo. Quer dizer, alguém que trabalha em uma estamparia como essa, em dois anos, no máximo, já desenvolveu um câncer devastador”, afirma.

O “conceito China” tem tomado conta do mundo com mão pesada em alguns países. Segundo Fraga, o Brasil é um deles. Deslumbrado pelo novo, e com a “história do consumo pelo consumo, as pessoas não estão nem aí”, afirma ele. “Como você vai falar com uma adolescente toda essa história? Ela vai deixar de comprar a saia que tem tudo isso por trás? Não, ela quer comprar a saia de R$ 60. Quer mudar de roupa para a nova balada. Ela não quer repetir roupa”, completa.

A saída para tal cenário está, de acordo com Fraga, na cultura e educação. “A gente roda e cai no mesmo lugar”.

Engajamento

Às voltas com a coleção inverno 2016, engajado em criar roupas que valorizam a cultura popular, Fraga aponta alguns problemas da indústria da moda no Brasil. “A falta de uma articulação política, é um dos grandes problemas. Não temos a articulação que outras frentes da cultura possuem. Aliás, nem nos vemos como vetor de cultura”.

Ele que, ao longo dos 19 anos de carreira, construiu parcerias sólidas com bordadeiras, maquiadores e outros profissionais com quem trabalha regularmente, acredita que isso é o que permite viabilizar os trabalhos. “Muita gente ainda acredita que o concorrente é a loja que está do lado dele. Ainda não tomou a dimensão do que o mundo virou”.

Fraga ainda comenta que o não fortalecimento dessas relações culmina no desaparecimento de algumas marcas. “Nessa história recente da moda vimos muitos profissionais e muitas marcas boas virando pó. A moda precisa dessas parcerias sólidas para viver”, frisa.

Na entrevista da Página Dois de amanhã, o estilista ainda traça um panorama da crise econômica no setor têxtil e comenta sobre assuntos que tomaram as redes sociais nos últimos meses.

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