Cientistas mapeiam vírus da zika; estudo é o primeiro passo para neutralizar efeitos da microcefalia

Da Redação (*)
horizontes@hojeemdia.com.br
27/01/2017 às 21:55.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:36

Temido pelas gestantes por causa da possibilidade da ocorrência de microcefalia nos fetos, o vírus da zika acaba de ser mapeado por cientistas brasileiros. Mais do que entender sua composição, o objetivo do trabalho é conhecer os impactos dele sobre as células que dão origem ao cérebro humano. Saber de que forma o vírus age é um primeiro passo para tentar bloquear seus efeitos. 

Os resultados da pesquisa mostram que o invasor microscópico é capaz de travar a multiplicação celular e de impedir que neurônios maduros apareçam. Essa característica provavelmente explica o tamanho reduzido do cérebro dos recém-nascidos afetados pelo vírus quando estavam na barriga da mãe.

Ao fim do trabalho, a equipe coordenada por Patricia Garcez e Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, conseguiu uma biblioteca de mais de 500 proteínas e genes das células humanas que parecem ser manipulados ou alterados indiretamente pela presença do vírus.

Algumas dessas moléculas podem se revelar alvos promissores para medicamentos que bloqueiem a ação do vírus de modo específico – algo que não existe hoje. Os pesquisadores estão tentando desvendar os aspectos básicos da biologia do vírus da zika desde que ele foi ligado à epidemia de microcefalia em bebês do Nordeste. 

Para obter os resultados, os pesquisadores expuseram células-tronco neurais ao vírus durante duas horas e compararam o desenvolvimento das amostras infectadas com outras não infectadas, o que mostrou os efeitos causados pela zika na formação do cérebro

Os primeiros resultados foram similares aos que a equipe já tinha observado em estudos anteriores: as células dos neurônios infectadas com o zika eram menores que as não infectadas e, com o passar do tempo, começaram a sumir.

Outra descoberta sobre o comportamento do vírus chamou a atenção dos pesquisadores. Os experimentos mostram que a zika não sai matando indiscriminadamente as precursoras dos neurônios. A presença dela leva a uma interrupção no chamado ciclo celular – o processo delicadamente programado pelo qual as células fazem novas cópias do seu material genético e depois se dividem, dando origem a outras células. “A parada no ciclo é uma resposta da célula aos danos em seu DNA”, explica Rehen.

Outro processo complexo, a chamada neurogênese ( células-tronco neurais que dão origem a diferentes formas especializadas de neurônios), também é afetado pelo zika. Os resultados mostram que esse mecanismo que ficou menos ativos nas células infectadas.

Financiamento
Com laboratórios no Rio, os pesquisadores Rehen e Garcez têm sido afetados pela crise financeira do Estado e pelos problemas mais gerais de financiamento que têm preocupado a comunidade científica brasileira. A situação deles é um pouco menos grave por causa da prioridade que tem sido dada aos estudos sobre o zika.

“Boa parte dos recursos federais para zika tem sido repassada, com cortes. Infelizmente, no caso da Faperj (órgão estadual de fomento à pesquisa), nem isso. A porcentagem repassada até agora foi mínima e não permite o andamento das pesquisas”, diz Rehen.

Também assinam o estudo pesquisadores da Unicamp, da Fiocruz, do Instituto Evandro Chagas e da Universidade Federal do Pará. Os dados estão em artigo na revista especializada “Scientific Reports”.

*Com agência  FolhaPress

Controle do Aedes aegypti agora é obrigatório no país 

O Levantamento Rápido do Índice de Infestação para Aedes aegypti (LIRAa), ferramenta criada para identificar os locais com focos do mosquito nos municípios, passa a ser obrigatório para todas as cidades com mais de 2 mil imóveis. O objetivo é que, com a realização do mapeamento, os municípios tenham melhores condições de fazer o planejamento das ações de combate e controle do mosquito Aedes aegypti.
 
A portaria com a medida foi publicada na última sexta-feira no Diário Oficial da União. Até então, o levantamento era feito a partir da adesão voluntária de municípios. 

Cidades que não realizarem o levantamento não receberão a segunda parcela do Piso Variável de Vigilância em Saúde, recurso extra que é utilizado exclusivamente para ações de combate ao mosquito. Em 2017, o Piso Variável de Vigilância em Saúde é R$ 152 milhões e será liberado aos gestores locais em duas etapas.

No último LIRAa, realizado no segundo semestre de ano passado, 2.284 municípios participaram do levantamento, o que representa 62% das cidades com mais de 2 mil imóveis. Em comparação com 2015, houve um aumento de 27,3% em relação ao número de municípios participantes. 
Realizado em outubro e novembro deste ano, o levantamento é um instrumento fundamental para o controle do vetor da dengue,  chikungunya e zika. Com base nas informações coletadas, o gestor pode identificar os tipos de depósito onde as larvas foram encontradas e, consequentemente, priorizar as medidas mais adequadas para o controle do Aedes no município.

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