Taxa de desemprego entre as mulheres supera a dos homens em Minas

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
17/11/2017 às 22:44.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:45
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

A taxa de desocupação entre as mulheres em Minas é quase quatro pontos percentuais maior do que a dos homens, apontam dados da última Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE. No último trimestre, o desemprego atingiu 14,2% das mulheres, ante 10,7% dos homens. O quadro de desigualdade no Estado é semelhante ao do Brasil, onde a desocupação atinge14,2% no primeiro grupo e 11,0%, no segundo.

A Pnad ainda aponta uma grande desigualdade racial no desemprego, que atinge mais os negros (13,8%) e pardos (14,3%) do que os brancos (9,4%), em Minas Gerais.

Para Mário Rodarte, pesquisador do Departamento de Economia da UFMG na área de mercado de trabalho, a crise acaba exacerbando as desigualdades de gênero e racial existentes no país.

“O mercado de trabalho desaquecido mostra de forma mais crua as suas assimetrias. Os empregos ocupados por segmentos mais vulneráveis tendem a ser eliminados com maior intensidade. A crise, em geral, tende a ampliar aquilo que é desigual, precarizando mais a situação do negro, da mulher e também dos jovens, como apontam outros números que tenho estudado. Ainda que eles também sejam atingidos, há maior estabilidade, por exemplo, para homens brancos na faixa dos 40 anos”, diz o pesquisador.

Desvalorização
Desempregada há um ano, a arquiteta Isabela Fialho Prates, de 28, acredita que o fato de ser mulher interfira na sua recolocação profissional. Depois de três anos atuando num escritório, ela foi demitida no fim do ano passado. Mesmo com currículo enviado para mais de 80 empresas em Minas e São Paulo, e com um curso de especialização de referência na área, feito em Barcelona, continua com dificuldade em encontrar um trabalho.

“A crise interferiu, freando a demanda de projetos, mas não é só. O número de arquitetas mulheres é muito maior do que o de homens. Mas o desemprego entre nós, proporcionalmente, é maior que entre eles. Há uma cultura de valorização do ‘homem criativo’ na contratação, com as mulheres ocupando postos secundários na área”, avalia Isabela.

Conjunto de fatores
A professora Simone Wajnman , do Departamento de Demografia da UFMG, aponta que normalmente o nível de desemprego entre as mulheres é maior do que entre os homens, sendo a crise um fator adicional nesta situação.

Ela explica que historicamente as mulheres também passam mais tempo desempregadas e ainda levam em consideração os custos do cuidado com o filho e a casa na hora de aceitar um trabalho.

“A crise é um fator adicional nessa situação. Grande parte do desemprego é formado não apenas por pessoas que foram mandadas embora, mas por mulheres que passaram a procurar emprego porque o companheiro está desempregado ou porque a renda da família diminuiu”, afirma Simone, que desenvolve pesquisas sobre demografia econômica e participação da mulher no mercado.

 Dificuldades na recolocação levam à precarização do emprego

Dulce Fátima Religioso, de 42 anos, também procura um novo emprego. Há cinco meses foi demitida após ter passado seis anos trabalhando como operadora de caixa em uma livraria e outros dois na mesma função em uma drogaria, ambos em um shopping center da capital.

“Houve mudança de toda a equipe que trabalhava no caixa e no atendimento na livraria, com os novos funcionários sendo contratados sem receber os benefícios que nós, antigos funcionários, tínhamos”, conta. “Para mim, agora, a dificuldade é a idade. Muitas vezes exigem que o profissional tenha até 35 anos”, prossegue Dulce.
Os ajustes no quadro de pessoal no antigo trabalho de Dulce expõe m mais um ingrediente do desemprego entre as mulheres, apontam especialistas. A questão, lembram, é que o setor de serviços, historicamente, tende a empregar mais as mulheres. E no contexto de crise e recuperação econômica lenta é um dos últimos a reagir.

“Essa distorção no desemprego de homens e mulheres se deve ao baixo crescimento do setor de serviços. E ele demora a se recuperar, porque depende do aumento de dinamismo do setor produtivo. A resposta nos serviços tem sido menor”, explica o professor Felipe Leroy, do curso de economia do Ibmec.
Um paradoxo, ele lembra, é que as pesquisas apontam que as mulheres hoje têm se preparado muito mais do que os homens.

Dados divulgados pelo IBGE em 2016 apontavam que dentre as mulheres ocupadas com mais de 16 anos, 18,8% tinham curso superior – ante 11% dos homens. Na parcela com ensino médio completo ou ensino superior incompleto, as mulheres representavam 39,1% e os homens, 33,5%.

CHEFES DE FAMÍLIA
Uma preocupação apontada pela demógrafa Simone Wajnman, da UFMG, é que, no quadro atual, o desemprego entre as mulheres chefes de família acaba levando essas pessoas a aceitar trabalhos de baixa qualidade. Dados divulgados neste ano pelo Ipea apontam que o número de lares chefiados por mulheres pulou de 23% em 1995 para 40% em 2015.

“Se essas mulheres não conseguirem trabalho, acabam entrando numa situação de extrema vulnerabilidade. Com isso, muitas vezes, acabam aceitando um emprego pior”, diz.

  


 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por