5 mil obras

Museu a céu aberto destaca Paraná no roteiro cultural e artístico brasileiro

Parque Geminiani Momesso fica em Ibiporã, a 25 quilômetros de Londrina

Cláudio Lacerda Oliva*
turismologoali@hojeemdia.com.br
Publicado em 19/04/2024 às 18:33.
Parque Geminiani Momesso (Gabriel Teixeira)

Parque Geminiani Momesso (Gabriel Teixeira)

O Parque Geminiani Momesso é um museu de arte a céu aberto localizado em Ibiporã, a 25 quilômetros de Londrina, onde já abriga um pavilhão em homenagem ao artista Angelo Venosa e esculturas de grandes nomes como Emanoel Araújo, Gilberto Salvador, José Resende,
Nicolas Vlavianos, Rubem Valentin e Victor Brecheret.

Empresário, colecionador e incentivador das artes, Orandi Momesso, fundou o Parque e a organização sem fins lucrativos Instituto Luciano Momesso, que tem a responsabilidade de administrar o museu a céu aberto. O Parque abrigará 80% da Coleção Orandi Momesso, contando os últimos 500 anos de história da arte brasileira. Construído ao longo de cinco décadas, o importante acervo reúne cerca de 5 mil obras de uma grande diversidade de artistas, em praticamente todos os períodos da arte brasileira, incluindo clássicos, pré-modernos, modernistas e  contemporâneos.

Frequentemente, trabalhos integrantes desse conjunto são doados para integrar o acervo de instituições brasileiras, como o MASP, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e MAM.

O museu a céu aberto está dividido em pavilhões, projetados pelo escritório Reinach Mendonça, para abrigar diferentes segmentos e artistas. Entre os espaços confirmados estão os destinados para urnas funerárias pré-cabralinas, objetos de engenho, arte popular, sacra, de povos  originários, mobiliário, carrancas e um local para exposições temporárias que leva o nome e homenageia o pintor Raphael Galvez.

Parque Geminiani Momesso (Gabriel Teixeira)

Parque Geminiani Momesso (Gabriel Teixeira)

Toda essa riqueza artística está em um paraíso ecológico formado por uma área 1.355 milhão metros quadrados, dos quais 121 mil são de mata virgem que encontram o Rio Tibagi, um dos mais importantes da região. A área foi doada por Orandi Momesso e está sendo paulatinamente transformada no centro cultural com o projeto do importante paisagista
Rodolfo Geiser.

"Espaço Arco-Íris", do artista nipo-brasileiro Yutaka Toyota, foi a escultura mais recentemente inaugurada no Parque Geminiani Momesso. O monumento "Espaço Arco-Íris" foi originalmente produzido para a comemoração do Centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão em 1995, quando a primeira parte foi instalada na cidade de Yokohama, desde então a obra pressupunha uma metade correspondente no Brasil. Agora, o Parque Geminiani Momesso foi o local escolhido para abrigar esse símbolo.

"Completar essa obra é um sonho que sempre tive, ela tem um significado muito importante para mim", diz Yutaka Toyota.

A escultura remete à história destes países com trajetórias marcadas pela imigração e intercâmbio cultural. A escolha da peça também busca valorizar o Brasil como país que acolhe a maior população nipônica fora do Japão e o estado do Paraná como segunda maior colônia japonesa em solo brasileiro.

"Uma metade está no Japão e a outra, aqui no Parque. A terra do sol nascente e as terras vermelhas do norte do Paraná estarão conectadas. Esse marco simboliza o que a humanidade tem de melhor: a união", afirma Orandi Momesso, empresário, colecionador, incentivador das artes e fundador do Parque Geminiani Momesso.

A inauguração da obra contou com uma performance de dança butô da artista Emilie Sugai e cerimônia oficial com a presença do colecionador Orandi Momesso, do artista Yutaka Toyota e de autoridades como o embaixador do Brasil no Japão, Octavio Henrique Garcia Cortes; o consul Geral do Japão em São Paulo, Ryosuke Kuwana; o prefeito de Ibiporã, José Maria Ferreira, e representantes do Ministério das Relações Exteriores e do Itamaraty.

O evento também marcou a apresentação do novo museu de arte a céu aberto fortalecendo a posição do estado no roteiro cultural e artístico brasileiro.

Parque Geminiani Momesso (Gabriel Teixeira)

Parque Geminiani Momesso (Gabriel Teixeira)

Com um olhar aguçado, Orandi Momesso teceu uma das coleções de arte mais relevantes do Brasil. O Parque carimba o legado deste trabalho de mais de cinco décadas ao salvaguardar o acervo em acesso público e, além disso, dedicar um espaço cultural e biodiverso à sua terra natal. A curadoria do acervo é voltada para artistas brasileiros e aqueles que vivem no Brasil e têm forte relação com o país, como Yutaka Toyota, naturalizado brasileiro em 1971. O artista contou, em seu ateliê, a emoção que inspirou a criação da obra.

"Sempre me interessei pelo espaço cósmico desde o início do meu trabalho. Quando eu cheguei no Brasil, lembro que me encantei com a paisagem e as cores intensas da natureza e o aço surgiu na minha obra como uma forma de espelhar esse novo mundo", declarou.

O monumento é resultado de um período da produção artística de Toyota, que nas décadas de 80 e 90, explorou materiais industriais que se tornaram populares no pós-guerra, como é o caso do metal. Segundo Yutaka, o preconceito no Japão da época era muito grande com materiais não tradicionais e a crítica sobre o trabalho afirmava que aço era material de cozinha, inaceitável em obras de arte.

A crítica reforça o pioneirismo do artista em expandir os cânones da arte e apresentar ao mundo novas formas do fazer artístico. Composta por 10 blocos dourados - cada um representa uma década - e uma "alça" em aço que remete ao casco do navio que transportou imigrantes japoneses para o Brasil, a ponta da escultura instalada no Japão está direcionada para o sentido geográfico do Brasil e a ponta da escultura inaugurada em solo brasileiro está direcionada para o país asiático.

A peça tem 10 metros e pesa cerca de três toneladas, duas toneladas a menos do que a original. Dado ao peso e à altura, a instalação ocorre em etapas, nas quais as partes de aço serão transportadas separadamente e a pintura finalizada in loco.

Apesar de igual aparência, as versões adotam materiais diferentes. No Japão, o monumento foi construído com aço inox, enquanto a nova obra no Brasil foi feita em aço carbono. Ao final, ambas recebem pintura dourada com tinta em poliuretano. O motivo para a mudança é estratégico: uma vez que o aço carbono é mais poroso, há uma aderência maior da camada de tinta e a consequente garantia de durabilidade da peça que ficará exposta a céu aberto suscetível a condições climáticas diversas.
Toyota também desenvolverá para o Parque uma nova versão da obra "Espaço Vibração 2000" que foi comissionada para a exposição coletiva "O Bardi dos Artistas", realizada para homenagear Pietro Maria Bardi, e doada para Pinacoteca de São Paulo.

Projeto de paisagístico de Rodolfo Geiser

Regenerar e preservar a flora, o solo e a água da região foi a premissa do projeto paisagístico para o Parque Geminiani Momesso pensado pelo  escritório Rodolfo Geiser Paisagismo e Meio Ambiente, formado pela arquiteta Christiane Ribeiro e o engenheiro agrônomo Rodolfo Geiser.

Com mais de cem mil plantios já realizados, a maioria de árvores, a proposta abraçou a vegetação típica de Mata Atlântica valorizando dezenas de espécies nativas e agregando poucos exemplares de outros biomas brasileiros e exóticos de outros países para criar um visual exuberante e marcante.

A concepção eleva a experiência do público ao proporcionar um ambiente de relacionamento entre arte e natureza. São cinco mil metros lineares de caminhos pavimentados para os frequentadores do Parque, com trechos mais largos para a circulação de carros elétricos que garantem acessibilidade para todos, acessos de serviços e recuos de proteção contra incêndios.

Pelo trajeto, maciços arbóreos abrigam surpresas visuais e recebem, em seus intervalos, esculturas em grandes dimensões e pavilhões expositivos.
Geiser destaca as experiências sensoriais vivenciadas no Parque:

"O olfato, o tacto, a audição, a contemplação e o paladar. A beleza visual, o aroma das flores e dos frutos, as diferentes condições climáticas, o toque das plantas e a percepção de suas nuances de textura, a ação do vento sobre a vegetação e até o sabor de frutas silvestres".

Pelo caminho o visitante também passará por decks de madeira, pontes e mirantes que foram pensados para proporcionar a fruição entre a paisagem, as esculturas e os pavilhões. Além da hidrografia natural da região, o projeto do escritório Rodolfo Geiser contempla 33,7 mil metros
quadrados de espelhos de água que enaltecem a beleza do paraíso ecológico que abriga o museu de arte a céu aberto do Paraná.

* Diretor Executivo da Assimptur

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