SEDANZÃO

Colocamos a Toro Ultra na estrada e descobrimos se ela é melhor que sedã para viajar

Marcelo Jabulas
@mjabulas
20/01/2024 às 21:09.
Atualizado em 18/02/2024 às 21:38
 (Foto: Marcelo Jabulas)

(Foto: Marcelo Jabulas)

Não é novidade para ninguém que as picapes estão na crista da onda do mercado. Esses veículos que nasceram como carros de carga há um século, se tornaram modelos de luxo (com as transformações em cabine dupla) nos anos 1980, encolheram nos anos 1990 e foram sublimados pelos SUVs, venceram o tempo e retomaram seu cetro.

O ano de 2023 ficou marcado por inúmeros lançamentos de picapes. Montana, Ranger, Rampage, F-150, Silverado e 1500 Limited são algumas delas. E por que as picapes estão em alta?

A resposta demanda a combinação de alguns elementos. As picapes sempre tiveram status de carro de rico. Geralmente são caras e têm depreciação menor que carros de passeio.

Outro fator é que são veículos tidos como resistentes. Com suspensões e estruturas mais robustas. E o Brasil é um terreno fértil para elas, afinal temos milhares de quilômetros pavorosos de estradas.

E por fim, o marketing. Há cerca de 10 anos o mercado deu uma guinada. Com a escassez de crédito, exigências de novos itens de segurança, o carro popular desapareceu e fabricar um automóvel ficou mais caro. Assim, para garantir a rentabilidade, fabricantes decidiram apostar em modelos de maior valor agregado. 

E a picape se enquadra nesse quesito e ainda goza de menor carga tributária por se enquadrar na categoria de comercial leve (veículo de carga). Assim, é possível praticar preços elevados, com tributos mais suaves, o que se traduz em mais moedinhas no porquinho do fabricante. 

E depois disso tudo, o amigo entende porque de repente, todo mundo quer uma picape na garagem, mesmo que não tenha a menor necessidade de uma caçamba no seu dia a dia. E dito isto, vamos à Toro Ultra.

Selecionamos a picape italiana para fazer uma tradicional viagem de férias mineira. Saímos de Belo Horizonte e rumamos em direção ao muito desbravado litoral capixaba. 

O Espírito Santo sempre foi um destino corriqueiro dos mineiros, pois é trajeto relativamente curto, quando se compara com o litoral baiano, não é tão disputado quanto as praias fluminense e nem tão distante das areias do Sul e do Nordeste.

No entanto, o grande senão de querer viajar para o litoral capixaba se traduz na combinação dramática de três algarismos: dois, seis e dois. Isso mesmo, o inexplicável trecho da rodovia BR-262, que se mescla com a BR-381 entre o fim do Anel Rodoviário até a divisa com o estado vizinho. 

Entrecortando perímetros urbanos, pistas simples, buracos, sinalização precária e um fluxo intenso de caminhões, é preciso muito querer comer uma moqueca capixaba para encarar essa estrada. Mas é para isso que existem as picapes: para ir onde os carros de passeio não dão conta. 

E ela foi. A Toro Ultra ignorou a qualidade vexatória do trecho mineiro da rodovia, que nos faz pensar porque pagamos tanto de IPVA para rodar numa estrada tão esculhambada. Mas é algo difícil de responder, como querer exigir que todo mundo conheça Adélia Prado.

A picape venceu com facilidade o trajeto, a suspensão independente McPherson nos eixos traseiros e dianteiros e uso de largos pneus Pirelli Scorpion ATR passou pela buraqueira sem medo de estourar buchas ou avarias. 

O entrelaçado entre as BR-262 e BR-381 também é conhecido por sua sinuosidade. Ao contrário do trecho que liga São Paulo a BH, com pista duplicada, o caminho até Vitória (literalmente em duplo sentido) é cheio de curvas, sobe e desce e em grande maioria em pista simples. 

Ou seja, o motorista invariavelmente irá compor incontáveis cortejos liderados por caminhões. Os pontos de ultrapassagem são poucos e quando surge uma "janela" é preciso aproveitar. 

Nesta hora o valente motor 2.0 turbodiesel de 170 cv e 35 kgfm de torque, combinado com transmissão automática de nove marchas, mostra a que veio. A Toro definitivamente não é a picape mais esperta da praça, mas a oferta brutal de torque dá força para fazer a ultrapassagem com muita segurança.

E se começar a chover, a tração 4x4 sob demanda não te deixa perder aderência. Se engrossar demais (como aconteceu) basta travar o 4x4 High até a chuva abrandar e rodar numa velocidade controlada. 

Quando São Pedro aparece o sensor de chuva mostra porque é útil e automaticamente inicia sua tarefa de limpeza do para-brisas. O mesmo é válido para o sensor crepuscular, com ajuste automático do facho do farol alto. 

Apesar de a distância entre Belo Horizonte e as praias capixabas ser de cerca de 500 km, dificilmente se completa o trajeto com menos de nove horas. Então, certamente vai anoitecer em algum momento do rolê.

Porta-malas

Quando viajava para a praia, na minha infância, não se tinha uma grande fartura de hotéis, pousadas ou serviços como Airbnb. Geralmente era necessário alugar uma casa com antecedência, que geralmente era desprovida (por questões de segurança) de comodidades como eletrodomésticos. Assim, era preciso entulhar tralhas, como isopor para perecíveis, TV para assistir a novela, malas, ventilador, colchonete e claro, cadeiras e sombrinhas.

Hoje não é necessário passar por esse perrengue, mas se for preciso o porta-malas da Toro Ultra é perfeito. Eu digo porta-malas e não caçamba, pois essa picape é a única do mercado com tampa rígida basculante. Lembra as caminhonetes cabine dupla dos anos 1980 com suas tampas de fibra.

São 937 litros de volume, que permitem levar quase tudo, menos uma geladeira, pois a tampa não permite volumes muito altos. E o mais legal é que há uma bolsa (vendida como acessório), para acomodar a bagagem e evitar que poeira ou água da chuva, que invariavelmente entram na caçamba, sujem a bagagem. 

Por dentro, o espaço é generoso para quatro ocupantes, que vão com muita folga. Um quinto passageiro compromete o conforto da segunda fileira, mas dá para chegar ao destino. Se rolar um revezamento, ninguém sofre.

O pacote de conteúdos é farto, com quadro de instrumentos, assistentes de condução e multimídia vertical, com conexão sem fio para Android Auto e Apple CarPlay, que espelham o navegador de forma exemplar. A climatização digital de duas zonas preenche toda a cabine, mas falta uma saída para a segunda fileira, coisa que existe no Jeep Commander que sai da mesma linha de montagem e divide praticamente tudo com a Toro.

E o consumo? Outro ponto que surpreendeu. A média ficou em 13,0 km/l, considerando trechos intermináveis a menos de 40 km/h, ladeiras, rolês por estradas litorâneas (estas com qualidade que humilha as vias do lado mineiro da divisa) e claro, alguns engarrafamentos em uma viagem de aproximadamente 1.600 km no total.

Assim, dá para entender porque a picape caiu no gosto do brasileiro. Ao contrário das letárgicas picapes do passado, hoje elas são espertas, confortáveis e bem mais seguras (a Ultra conta com seis airbags, frenagem automática e alerta de colisão). Tudo isso garante tranquilidade para viajar, que dificilmente se tem um carro de passeio convencional, com suspensão mais baixa e delicada. 

No entanto, vale uma observação para uma parcela dos motoristas de picapes. Não é de hoje, mas ficou escancarado neste teste como muitos condutores desse tipo de veículo são imprudentes e irresponsáveis. Por acreditarem que suas caminhonetes são indestrutíveis e super potentes, invariavelmente há uma picape ultrapassando em faixa contínua, mesmo com tráfego na direção oposta. 

Em uma dessas inúmeras manobras totalmente irresposáveis, um idiota por pouco não colidiu de frente com uma carreta e para fugir do acidente quase jogou um carro que trafegava no mesmo sentido para fora da pista. Ou seja, seu carro pode ser parrudo, mas não é indestrutível e isso vale para motorista de qualquer carro. Então, respeite a sinalização e não seja um imbecil. Talquei?

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