Editorial.

Atendimento mais especializado

14/08/2016 às 00:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:21


Os ambientes de trabalho na maioria das empresas do Brasil não devem ser considerados ideais atualmente. Quase todos os setores da economia tiveram prejuízos, reduziram faturamento e foram obrigados a cortar postos de trabalho. Quem fica no emprego, claro, precisa trabalhar mais e apresentar resultados melhores, sob pena de ser trocado por outro profissional com qualificação semelhante que está ocioso. 

Nem todo mundo reage da mesma forma a um trabalho sob pressão, o que abre caminho para as doenças psíquicas relacionadas ao trabalho, que já são motivo para a concessão de auxílio-doença de 13 mil pessoas por ano em todo o país. 

Isso porque a maior parte dos pedidos de licença relacionados a esses tipos de transtornos são indeferidos pelas servidores do Ministério do Trabalho. Os sintomas são geralmente confundidos com cansaços, estresses pontuais ou até mesmo preguiça do empregado em fazer o seu serviço. 

Reconhecidamente, o trabalho de identificação das doenças psíquicas é complicado. O cérebro humano é um mistério mesmo para os maiores especialistas. Por isso, qualquer diagnóstico em um indivíduo é sempre bastante embasado, às vezes, leva-se anos de análise para que um caso seja completamente definido. Não é o caso de um trauma ou uma doença mais grave, que podem ser identificados já nas primeiras análises. 

Um atendimento adequado para esse diagnóstico não parece ser o caso, infelizmente, da Previdência Social. A maior parte dos trabalhadores depende do Sistema Único de Saúde para ser atendido por um profissional especializado. Após a marcação, essa consulta leva, em muitas cidades, meses ou até um ano para ser realizada devido à grande procura e a falta de médicos que atendem pelo SUS. Somente a partir daí é que o trabalhador começa a ser realmente avaliado. 
Claro que há casos de abusos e fraudes, como os relatados recentemente pelo governo. Essas situações devem ser combatidas com fiscalização, como as verificações de perfis em redes sociais, mas não podem servir de parâmetro para se traçar um quadro geral. 

Ao fazer o pedido de licença por doenças psíquicas no trabalho, o trabalhador deveria ser encaminhado para um atendimento diferenciado. E o atendimento não significaria ausência do trabalho. O empregado poderia ser acompanhado durante o período em que estivesse na empresa, e o médico poderia avaliar melhor a causa do transtorno, indicando o tratamento ou até recomendando apenas uma mudança de função, sem necessidade de licença. 

O quadro seria um sonho, mas o certo é que as doenças psíquicas no trabalho não podem definitivamente serem tratadas como outras, sob o risco de condenar milhares de trabalhadores a um sofrimento sem fim. 

  

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