Editorial.

Celebrar sem esquecer

02/08/2016 às 20:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:07

Apesar da abertura oficial ser somente na sexta-feira, depois de sete anos de espera, os Jogos Olímpicos do Brasil começam hoje com os jogos de futebol feminino. E quis o destino que Belo Horizonte fizesse parte do início desse acontecimento histórico para a América do Sul, com os jogos no Mineirão. O mundo inteiro terá os olhos voltados para o nosso país a partir de hoje.

Muita gente torce o nariz para a realização dessa Olimpíada. Também pudera. Quando fomos escolhidos como sede, em 2009, o momento era outro, na política e na economia. Vivíamos um ciclo de crescimento, com ganho significativo de renda da população e um volume de investimentos. Ainda éramos o país do futuro, mas com um presente que nos dava esperanças de que tínhamos encontrado o caminho. 

Sete anos se passaram, e o futuro não se confirmou. Vamos sediar os jogos em situação muito, mas muito diferente daquilo que pensávamos. A economia se retraiu, os investimentos cessaram, milhões perderam os empregos e as obras atrasaram e são entregues na última hora – como sempre, aliás, mas tínhamos esperança que não ocorresse. 

“Nós pedimos os Jogos, comemoramos quando fomos escolhidos e temos que entregar o melhor possível aos atletas”

Em 2013, assistimos as maiores manifestações em 30 anos. Descobrimos um dos maiores esquemas de corrupção da história do país envolvendo a principal empresa do Brasil e diversas grandes empreiteiras. Uma investigação parou o país praticamente. E um dos principais responsáveis pela vinda dos Jogos ao Rio, o ex-presidente Lula, acaba de virar réu em uma ação na Justiça.

Não temos, sim, muitos motivos para comemorar. Mas isso não deve ser justificativa para não aproveitarmos essa oportunidade de ver o maior evento do mundo dentro do nosso país. Não se trata de isolamento, alienação ou de ignorância em relação a nossa realidade. Não vamos esquecer das nossas mazelas. Elas estão aí, serão sentidas nos próximos 17 dias e ficarão após eles. 

Jogos Olímpicos são o momento de integração e interação entre os povos, uma trégua entre disputas e discussões em favor do espírito olímpico – mesmo reconhecendo que esse ideal já foi também tomado pela ganância e mercantilização. Muito provavelmente não teremos outra oportunidade tão cedo de receber pessoas de todo o mundo ao mesmo tempo. 

Além disso, a Olimpíada é o máximo na vida de um atleta. Milhões de pessoas treinam a vida inteira para ter a oportunidade de competir nesse evento sob a bandeira do seu país. Proporcionalmente, poucos conseguem. E eles não tem responsabilidade dos nossos erros, das nossas disputas internas. Nós pedimos os Jogos, comemoramos quando fomos escolhidos e temos que entregar o melhor possível. 

Por isso, aproveite, se envolva, torça. Vá a um jogo – os preços não são muito diferentes do nosso Campeonato Brasileiro. Os nossos políticos podem não merecem crédito, mas nós, brasileiros, pelo que passamos todos os dias, merecemos como poucos viver os Jogos Olímpicos.

 

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