Editorial.

Celulares roubados e a grande cadeia do crime

Publicado em 06/11/2018 às 20:41.Atualizado em 28/10/2021 às 01:38.

Comerciantes e frequentadores de dois grandes shoppings populares da capital foram pegos de surpresa, nos dois primeiros dias da semana, por grandes ações organizadas pelas polícias Militar e Civil, Ministério Público, Prefeitura e Receita Federal para combater os furtos, os roubos e a receptação e o contrabando de aparelhos celulares.

O resultado de ambas as operações, que ocorreram sem maiores confusões e com a expressa anuência das administrações dos shoppings Xavante e Oiapoque, na região Central da cidade, foi contundente: milhares de equipamentos apreendidos e quase 20 pessoas presas. 
É fundamental que iniciativas assim ocorram regularmente. Como sustentam as autoridades, a ponta da receptação de produtos roubados ou contrabandeados é parte crucial da cadeia criminosa que se forma a partir da demanda social por tais produtos, que saem a baixo custo para quem os adquire.

Mas é preciso entender que, não houvesse gente disposta a comprar equipamentos cuja procedência não pode ser garantida nem pelos vendedores, a indústria construída em torno de tal ilegalidade simplesmente deixaria de existir.

O raciocínio vale para inúmeros exemplos. Talvez um dos mais ilustrativos, além do próprio caso dos celulares, seja o do segmento de autopeças. Afinal, é notório que o roubo de carros em todo o país se embasa, em grande medida, nos centros de desmanches de veículos, envoltos na clandestinidade. 

E, sobretudo, claro, na disposição dos consumidores em pagar mais barato por produtos dos quais nem se preocupam em saber a origem. 

O recado não poderia ser mais claro: enquanto pessoas que se dizem seguidoras das leis sucumbem à oferta de peças de carros ou de aparelhos celulares a preços bem inferiores aos praticados sem o véu da ilicitude, a estrutura do crime se retro-alimenta e permanece sólida, por mais que as autoridades se esforcem para desmontá-la. 

Todos que pensam levar vantagem nessas situações deveriam estar conscientes de que, por uma ironia não muito rara, podem vir, mais cedo ou mais tarde, a ser vítimas do mecanismo que ajudam a manter em funcionamento. 
 

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