O pedido do Ministério Público Federal do Ceará de suspensão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para mais de 8 milhões de inscritos em todo pode causar um grande problema para o governo. A procuradoria considera que a divisão das datas de realização dos exames afeta o princípio da isonomia entre aqueles que pretendem conseguir uma nota para disputar vagas em faculdades de todo o país e até do exterior, já que as notas também valem para seleção em universidades de Portugal.
Os argumentos do MPF não deixam de fazer sentido e corrobora com o que dizemos aqui neste espaço na edição de ontem. Embora as ocupações das escolas afetem apenas 2% dos inscritos, isso significa mais de 191 mil pessoas. É um número considerável de prejudicados.
Sobre as questões das disciplinas gerais, o prejuízo seria menor. Claro que há vários modelos de provas e muitos assuntos que estão em uma não estão em outras. O problema maior é a redação, que tem um tema somente para todo o país.
A maior familiaridade com um assunto ajuda muito na hora de escrever sobre ele, e isso varia de pessoa para pessoa. Com o adiamento feito pelo MEC, 191 mil pessoas teriam que fazer redação sobre um tema diferente do que as outras 8 milhões.
Além disso, como destacamos também aqui ontem, a maioria dos que farão o Enem no início de dezembro estará ocupada também para as provas finais das respectivas escolas. O risco de prejuízo é muito grande.
De toda forma, a solicitação da procuradoria federal do Ceará ampliou o clima de tensão dos 2% que tiveram as provas adiadas para a totalidade dos candidatos. Publicamos até uma outra reportagem para hoje sobre o que os estudantes estão fazendo para relaxar nas vésperas de uma prova tão importante para a vida profissional deles. Mas desse jeito, com risco até de suspensão do Enem, fica difícil não ficar tenso.
O governo falhou, mais uma vez, em não prever as consequências das ocupações e não identificar o risco do Enem ser afetado por elas. Por que não pedir a desocupação pacífica dos locais, com o compromisso de permitir o retorno dos manifestantes aos locais na segunda-feira após o exame? Incompetência e falta de diálogo são, sem dúvida, as marcas do governo de Michel Temer até agora.