Em tempos de crise não é de se estranhar que seja um salve-se quem puder pra todo lado. Cada um tenta defender sua profissão, sua área, seus ganhos e seus empregos. E não há nenhum mal nisso.
Só que parece estar havendo um exagero na questão dos alimentos. Conforme estamos mostrando hoje, a diferença entre os valores cobrados pelos produtores no campo e os oferecidos ao consumidor final ultrapassam os 200%. Quem vai ao supermercado com alguma frequência já percebeu que feijão, arroz e leite lideram as altas.
Tudo bem que nossa carga tributária é pesada e burocrática e nossa infraestrutura para transporte de mercadorias é arcaica e de péssimas condições. Mas algumas pessoas usam esses fatores como desculpa e aproveitam para tentar ganhos maiores em cima do trabalhador, já castigado pelas altas constantes nos preços dos alimentos neste ano. Pior, a especulação ocorre dos dois lados da cadeia: com o produtor, que reduz o preço pois não quer correr risco de perder a produção; e com o consumidor, que não quer ficar sem o produto, mesmo com uma alta significativa.
Mas há como combater esse tipo de prática e parte de nós, consumidores. Como destacou o dirigente da Faemg na reportagem de hoje, os empresários usam o nosso comportamento como teste. Se eles aumentam o preço e o consumidor continua comprando o produto, por que eles reduziriam o valor?
Por isso, a velha regra dos do governo Fernando Collor ainda vale: pesquise, compare e questione. Conscientize-se que a sua atitude é a principal peça nessa cadeia. Se puder, não adquira produtos a preços abusivos e procure alternativas. Se não puder ficar sem o produto, compre menos ou o necessário para cobrir a necessidade mais urgente e parta para outro local em busca de um menor preço. Ou ainda, substitua alimentos por alguma alternativa mais barata.
Quem compra é quem dá as cartas e faça valer essa importância se negando a comprar em lugares mais caros e que têm preços abusivos. As sensibilidades do bolso da dona de casa e da tabela com o balanço de fim de mês do empresário são as mesmas.
Aos empresários, talvez um pouco de criatividade nessa hora possa garantir a fidelização do cliente a longo prazo e ser mais eficaz para o negócio do que tentar ganhos imediatos. Trabalhador que se endivida hoje, um dia não volta mais.