Editorial.

Crise traz de volta preconceitos históricos

Publicado em 28/01/2017 às 22:18.Atualizado em 15/11/2021 às 22:37.

A crise econômica pela qual o Brasil passa parece ter trazido de volta alguns fantasmas que, aos trancos e barrancos, estávamos exorcizando. A miséria e a fome foram os principais, mas junto com o crescimento sugiram algumas oportunidades para quem antes estava completamente a margem da sociedade. O dinheiro disponível não é tão alto e o consumo caiu vertiginosamente e os postos de trabalho tiveram que ser cortado. Foi nessa escolha de quem sai ou quem fica que parece termos encarnado novamente os piores preconceitos que algum dia já foram chamados de valores. 

O desemprego atingir principalmente as mulheres e os negros em Belo Horizonte, conforme destacamos na edição de hoje, é a prova de que, na hora do aperto, preferimos ficar naquilo que é mais “o normal” em uma sociedade ainda com resquícios de práticas comuns no passado. Como uma das pessoas ouvidas na reportagem, a distância da sociedade de hoje, altamente tecnológica e globalizada, para a escravocrata, que dispensa comentários maiores, é de quatro ou cinco gerações. Em aspectos históricos, é muito pouco para uma mudança de comportamento. 

Na questão da igualdade de gênero, essa distância ainda é menor. Não é incomum achar pessoas que ainda acreditam que mulher tem que ficar obrigatoriamente em casa cuidando dos filhos, que tem que aceitar calada as agressões do marido ou que é a culpada por ter sido estuprada. A evolução do ser humano é, historicamente, lenta demais.

A solução é uma mudança geral da cultura do brasileiro. O respeito pelo ser humano precisa ser colocado em primeiro lugar, não só em todas as decisões governamentais ou de empresas, mas nas atitudes do dia a dia de qualquer cidadão. 

Temos que parar de endeusar pessoas que, de uma hora para outra, se tornam bilionários fazendo as mesmas coisas que muita gente faz – e sabe-se lá o que fazem para ganhar tanto dinheiro –, para valorizar o professor que educa uma criança, o servidor público que limpa as ruas, o motorista de ônibus que transporta vidas ou o pequeno empresário que concretiza um sonho.

Somente mudando os nossos valores é que poderemos caminhar para uma sociedade igualitária em todos os sentidos. 

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