Nos últimos dois anos, sofremos bastante com uma forte seca que teve como consequência uma crise hídrica sem precedentes na nossa história recente. É inevitável fazer a comparação com que a população de várias cidades mineiras voltaram sofrer neste ano com as consequências das seguidas chuvas que, embora já tenham atingindo a média histórica para o mês inteiro, não chegaram ainda a níveis que possam ser considerados anormais.
Talvez esse tempo todo com chuvas bem escassas nos fez esquecer que somos um país tropical e que Minas Gerais é considerada a caixa d’água do Brasil. Água não brota do chão à toa. As nascentes são abastecidas pela chuva, principalmente no período em que estamos, deixando rios já naturalmente cheios, com maior risco de transbordamento.
Parece uma coisa bem básica, não é!? Por isso mesmo, por ser básico, é que deveríamos já estar acostumados a conviver com esses fenômenos, semelhante ao comportamento dos japoneses com terremotos. Já deveríamos ter muito claro na cabeça quando, como e onde esses fenômenos ocorrem e o que fazer quando nos deparamos com eles.
As nossas cidades já deveriam estar estruturalmente preparadas para os temporais, com meios corretos de escoamento de água, com canalizações adequadas de córregos, com e estudos das áreas de risco.
Nós moradores de um país tropical, já deveríamos saber também quais doenças crescem neste período e o que fazer para impedir a transmissão ou combater os vetores. A dengue é uma doença cujo mosquito transmissor precisa de água parada para se reproduzir. Mas a maior parte dos focos do inseto está justamente dentro das casas de pessoas que estão carecas de saber da doença. Atualmente, muito por causa desse descaso da população em geral, ultrapassamos a marca de 500 mil casos no ano, e o período chuvoso não está nem na metade.
Não dá pra culpar a natureza por mortes ou prejuízos causados por temporais. Ela é relativamente previsível e cíclica. Os fenômenos ocorrem há séculos, com maior ou menor intensidade. Nós, sim, somos culpados por não aprender como contorná-los e por não considerá-los no nosso planejamento de cidades. Somos coautores das nossas próprias tragédias.