Editorial.

Diretoria da propina

22/03/2016 às 20:39.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:36

A 26ª fase da “Lava Jato” escancarou, mais uma vez, o quão profundo e ainda pouco conhecido é o maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil. Prova disso é a revelação de que a Odebrecht – uma das grandiosas e consolidadas empreiteiras nacionais – mantinha um setor exclusivo (funcionários, hierarquia e informatização) para o tratamento de toda a propina utilizada na “compra” de agentes públicos.

Uma verdade é que a operação deflagrada nessa terça-feira (22) em oito estados e no Distrito Federal, batizada de “Xepa”, deixou muita gente de cabelo em pé. O motivo? A distribuição da propina não era feita somente em âmbito federal, ou seja, governos municipais e estaduais que mantêm ou mantiveram contratos com a construtora podem ser vasculhados pela corporação, a partir de informações contidas em e-mails e em documentos recolhidos pelos agentes.

A Operação Xepa pode ser definida como “filha legítima” da “Lava Jato”, já que todos os 110 mandados judiciais cumpridos nessa terça-feira (22) foram formulados pelo juiz Sérgio Moro a partir de depoimentos colhidos nas etapas anteriores da megaoperação, principalmente pelo da ex-secretária da empreiteira Maria Lúcia Tavares, presa na 23ª fase da investigação.

Uma das revelações mais intrigantes feitas pela Polícia Federal, nessa terça-feira (22), foi a destinação de mais de R$ 15 milhões a uma pessoa identificada apenas como “Mineirinho”, de outubro a dezembro de 2014. Esse “colaborador” é um dos grandes beneficiados da “rede de prestadores de serviço” em favor da Odebrecht.

Pode ser dito também que impressiona a profissionalização dos pagamentos ilegais. Eram tão requintados que tinham valores pré-determinados – entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões –, vinculação a determinadas obras, e que ocorreram até novembro de 2015, mesmo após a prisão do presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e de outros executivos da empreiteira.

O grau de organização do sistema secreto de controle de propina instalado pela construtora impressionou os investigadores – e a nós brasileiros –, que consideram que um novo nicho de fraudes foi descoberto. Se suspeitas envolvendo governos estaduais e prefeituras se concretizarem, ainda assistiremos a um sem número de investigações. Salve-se quem puder!

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por