Editorial.

Do chazinho ao ‘doutor google’

Publicado em 22/10/2016 às 18:34.Atualizado em 15/11/2021 às 21:20.

Não deve existir um brasileiro sequer que, em algum momento da vida, não tomou um remédio por conta própria para acabar com aquela dorzinha. A automedicação está cada vez mais frequente na nossa agitada vida, apesar dos sérios riscos para a saúde. Pior, a modernidade tem mais atrapalhado do que ajudado a reduzir essa prática, que como diz nesta edição o diretor da pesquisa do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ), Marcus Vinícius Andrade, é cultural. 

Aqui em Minas a tradição da automedicação é, sem dúvida, ainda maior. A geração que já passou dos 30 conviveu, na infância, com os famosos chás que curavam tudo: dor de cabeça, passando pela febre, virose e até sangramentos intensos. A solução sempre estava no terreiro de casa, no máximo, no da vizinha. 

Mesmo nas cidades um pouco maiores, havia ainda a atuação bem maior do farmacêutico, que fazia uma análise do quadro ali mesmo no balcão e indicava os medicamentos necessários. Médico? Só em ultimo caso, depois de todas as outras alternativas anteriores falharem. 

Mas eram outros tempos. Muita gente morava ainda na zona rural, havia muita dificuldade de locomoção e de comunicação. Hoje, a rede de saúde se ampliou significativamente, as condições de infraestrutura melhoraram, mas ainda temos muitas manias daquelas épocas. Com a “imensa vantagem” de, atualmente, não termos mais que sair de casa para perguntar sobre um medicamento “tiro e queda” (essa expressão era clássica!). É só procurar a internet, apelidada pela classe médica de “doutor Google”, para saber de tudo. Até o conhecimento secular dos nossos antepassados sobre aquilo que realmente funciona está ameaçado por páginas que fazem propaganda de uma nova droga que acaba com todos os males “sucesso no exterior e agora no Brasil”. 

Milhares de pessoas são intoxicadas todos os dias por uso inadequado de medicamentos e muitas têm complicações graves e acabam morrendo de formas absolutamente estúpidas. Sem contar com os remédios que acabam escondendo doença mais grave. Quando a pessoa percebe o verdadeiro mal, já não há muito o que fazer. 

Nada substitui a orientação de um médico especializado que indicará um tratamento adequado. Ao contrário dos remédios milagrosos, saúde não se compra na internet. 
 

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