Editorial.

Entre culpados e inocentes

23/03/2016 às 22:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:37

A discussão do sigilo de dados dentro da investigação da “Lava Jato” voltou à tona nessa quarta-feira (23) com as planilhas da Odebrecht referentes a doações de dinheiro para campanhas eleitorais. Depois que elas foram divulgadas pela imprensa, o juiz federal Sérgio Moro decretou o sigilo das informações. As listas foram apreendidas na casa do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, mas não estão ligadas ao setor de Operações Estruturadas, este, diretamente relacionado diretamente com o pagamento de propinas da Petrobras.

São 200 nomes de beneficiários de dinheiro da empreiteira. No entanto, as listas podem conter tanto doações de caixa 2 quanto alocações legais em campanhas, declaradas nos TREs e o TSE. Assim, nomes de políticos comentados nessa quarta (23) e quinta-feira (24) acabam caindo na vala comum da corrupção, quanto podem ter sido beneficiários de dinheiro legal. Alguns, inclusive, com direito ao foro privilegiado. Por isso a validade do sigilo nesse caso, mas que veio tardiamente, pois as planilhas já haviam sido divulgadas quando o juiz do Paraná anunciou sua decisão. Nelas, nove mineiros são relacionados.

Uma outra discussão, que não cabe aqui, é quanto ao interesse de uma empreiteira em doar tanto dinheiro para campanhas. Afinal, a soma ultrapassa os R$ 55 milhões. Fato é que a delação premiada dos executivos da Odebrecht vem colocando mais lenha numa fogueira já bastante viva. Se quando foi preso, o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, pronunciou que a República iria tremer, eis o que está se passando. Num país dividido entre os que não querem golpe e os que esbravejam a necessidade de saída da presidente Dilma Rousseff, certo é que os empresários estão complicando a vida de muitos políticos.

É preciso, de fato, se tomar cuidado com a divulgação de dados cujo real conteúdo pode ser distorcido, considerando essa dualidade de opiniões e posições. Nem o Judiciário está imune ao erro. Aí, cabe lembrar a divulgação da conversa entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, transformada numa polêmica infindável. Se havia ali uma autoridade de foro privilegiado, não seria acertado o sigilo? Ou vale a opinião do juiz Sérgio Moro, à época, de se tratar de informação de interesse público? No caso das planilhas pode haver interesse público porque são políticos eleitos, mas qual é a informação? Ela não está clara e este é o problema.

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