Minas tem quase 600 mil quilômetros quadrados, uma área praticamente igual à França. Algumas cidades estão a mais de 800 quilômetros da capital, o que torna o deslocamento por estradas muito difícil e demorado. Além disso, reconheçamos, a maior parte da nossa malha viária não oferece condições de segurança ideais.
Em países de dimensões continentais, como o Brasil, a aviação regional exerce um papel fundamental para a integração de áreas. Algumas unidades da federação nos Estados Unidos e no Canadá têm na operação de pequenos aviões em lugares mais distantes um importante meio de circulação de pessoas e de mercadorias, além de prestação de serviços, como correios e transporte de pacientes.
É isso que o governo de Minas parece querer fazer com a ativação de um projeto para ligar cidades importantes com a capital por meio de voos fretados. A primeira fase da proposta pretende atender as cidades de Curvelo, Diamantina, Divinópolis, Juiz de Fora, Muriaé, Patos de Minas, Ponte Nova, São João del Rei, Teófilo Otoni, Ubá, Varginha e Viçosa. Serão 60 voos semanais.
A maioria dessas localidades nunca recebeu uma rota sequer de voos regulares de uma empresa aérea. Outras foram atendidas por pouco tempo, mas foram “largadas” pelas companhias.
A tentativa de fortalecer a aviação regional em Minas não é nova. Entre 2002 e 2012, as gestões Aécio Neves e Antonio Anastasia colocaram em prática o ProAero, que revitalizou 23 aeródromos e aeroportos em Minas, sob um custo de R$ 369 milhões. Alguns desses terminais são de cidades polo, mas, infelizmente, as melhorias não foram suficientes para atrair o interesse de grandes empresas do setor aéreo na maioria das rotas.
Mas a estrutura está aí, custou caro e precisa ser usada para que o investimento não se perca. A idéia do governo atual é arriscada. O segredo do negócio seria operar os vôos com aeronaves pequenas e sob demanda. Além disso, o avião Cessna Grand Caravan 208 B, que será utilizado pela empresa vencedora da licitação, e é tido pelos aviadores como uma aeronave segura e com boa disponibilidade de peças, o que reduz bastante o custo de operação. Essa é um dos aviões mais utilizadas, por exemplo, para ligar ilhas do Caribe ou comunidades do Alaska.
O Estado promete ainda assumir o risco do projeto, ou seja, subsidiar as passagens até que a demanda alcance um nível que sustente o negócio. A possibilidade de prejuízo existe, principalmente nessa época de crise, mas a medida, segundo os gestores, está embasada por pesquisas. E é justamente em épocas como a que vivemos atualmente que o Estado deve buscar soluções criativas para criar novas oportunidades de negócios.
As cidades envolvidas, principalmente as com potencial turístico, também precisam atrair pessoas para que o projeto dê certo e gere renda e empregos.