Editorial.

Fatura da Copa e da Rio’2016

01/05/2016 às 21:10.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:13

Gastar R$ 66 bilhões em dois eventos esportivos, ainda que de importância mundial, é de beirar o absurdo em qualquer canto do planeta. No Brasil, então, que prevê fechar o ano com um déficit do mesmo tamanho, no ápice de uma crise econômica, chega a ser escandaloso.

A cifra inclui investimentos privados, é verdade, mas o grosso dessa conta ficou mesmo com os cofres públicos. Foram R$ 39,5 bilhões com a Copa de 2014 e a Olimpíada que ainda não começou. A essa fatura, destrinchada em nossa matéria principal, some-se ainda os R$ 180 milhões em crédito extra que a União acaba de destinar para a Rio’2016, sendo a maior parte deles, R$ 100 milhões, para publicidade, e o restante para obras. 

Para alguns, principalmente o governo, essa dinheirama pode ser justificada sob a ótica dos investimentos. Mas o que a história nos mostra é que o BRT aqui ou um aeroporto reformado acolá pouco representam diante de estádios superfaturados ou subaproveitados, viadutos com problemas estruturais, ciclovias que desabam e canteiros de obras abandonados. Uma realidade que joga por terra a tese de legado e mostra que as “conquistas” foram meramente pontuais, apesar de rateadas entre 200 milhões de brasileiros. 

Só para se ter uma ideia, um quinto da verba pública destinada aos dois eventos é mais do que todo o orçamento previsto para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit, em 2016. Por falta de recursos, alega o órgão, mais de cem contratos para duplicação de pistas e manutenção de rodovias em todo o país serão suspensos. 

Mas esses bilhões não fazem falta somente na infraestrutura. Poderiam encurtar, por exemplo, a espera por consultas e exames no SUS. Ou preparar a rede para suportar os mais de 1 milhão de brasileiros que, desempregados ou sufocados pelas despesas domésticas, se desfizeram dos planos privados em 2015. A lista de demandas é longa e poderia incluir também repasses para que estados construíssem cadeias, reduzindo o déficit de vagas que só em Minas chega a 40 mil. 

Enfim, usar megaeventos esportivos como vitrine para o mundo é fácil. Difícil mesmo é arrumar a casa para as visitas sem esconder sujeira debaixo do tapete.

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