Um dos grandes orgulhos dos mineiros e maior símbolo da arqueologia do país, o crânio de Luzia, a mulher que viveu no Estado há mais de 12 mil anos, na região de Pedro Leopoldo, na Grande BH – e cujos restos mortais foram descobertos em 1975 –, acaba de ressurgir, literalmente, das cinzas.
O fóssil de Luzia chegou a ser dado como uma das milhares de peças integrantes do acervo histórico e biológico perdido no grande incêndio que atingiu, no início de setembro, as instalações do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Na semana passada, ainda vasculhando o que sobrou da tragédia, pesquisadores encontraram uma caixa de metal e, dentro dela, o crânio daquela que é considerada a mais antiga representante dos hominídeos que habitaram o Brasil, há muito mais de cem séculos.
Também foram localizadas outras partes de Luzia guardadas no Museu Nacional, que inclui um fêmur.
Segundo os responsáveis pelo feito, que só divulgaram a notícia ontem, cerca de 80% da peça principal estavam “visíveis”, o que é uma excelente indicação de que a estrutura poderá ser integralmente recuperada. Após a higienização e estabilização do crânio, terá início a reconstituição.
O esqueleto de Luzia chama-se, oficialmente, “Lapa Vermelha IV Hominídeo 1”. O nome feminino foi um apelido dado pelo biólogo Walter Alves Neves, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e que acabou prevalecendo.
Curioso também é que Neves inspirou-se em Lucy, o célebre fóssil de Australopithecus afarensis de 3,5 milhões de anos, descoberto na Etiópia um ano antes da mineira ancestral.
O achado de agora, após a terrível destruição do Museu Nacional, tem tanta importância quanto o que ocorreu na primeira vez em que os ossos de Luzia ou de Lucy foram vistos, no interior mineiro ou no país africano.
Já admirada pelo valor científico e cultural, Luzia ganha prestígio ainda maior como uma espécie de emblema. Trata-se de uma guerreira, representante, ao mesmo tempo, da força da mulher brasileira e da grandeza do ser humano. Um ícone ciente de sua relevância a comprovar que, por mais que forças externas tentem destruí-lo, sua existência prevalece.