Editorial.

Messi, produto do meio e réu

07/07/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:12

Em janeiro deste ano, numa espécie de delação premiada ao FBI, feita em Montevidéu, onde está preso como um dos envolvidos no esquema de corrupção na Fifa, escancarado pelos norte-americanos em maio de 2015, o uruguaio Eugenio Figueredo, ex-presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), acusou diretamente dois cartolas.

Segundo ele, Julio Grondona, ex-presidente da AFA, morto no final de 2014, e Ricardo Teixeira, ex-comandante da CBF, que renunciou em 2012 ao cargo que ocupava desde 1989, eram os responsáveis por comandar o esquema de corrupção implantado no futebol da América do Sul para desviar dinheiro da venda dos direitos de transmissão de várias competições.

Um dos maiores parceiros de Ricardo Teixeira, em vários de seus negócios, é Sandro Rossell, ex-presidente do Barcelona, da Espanha, que renunciou ao cargo em janeiro de 2014 após ser acusado pela justiça do seu país de fraude na polêmica transferência de Neymar do Santos para o time catalão.

Rossell esteve na diretoria do Barcelona na maior parte do período de formação de Messi, craque que quando deixava o clube espanhol para defender a própria seleção, tinha como “chefe máximo” Julio Grondona, o parceiro de Teixeira, segundo Eugenio Figueredo, na montagem do esquema de corrupção no futebol sul-americano.

Ontem, Messi foi condenado a 21 meses de prisão, juntamente com o pai, por ter fraudado o fisco em 4,1 milhões de euros, de 2007 a 2009, segundo a justiça espanhola. A pena pode ser cumprida em liberdade, por ser inferior a 24 meses. Além disso, eles pagarão uma multa de 3,68 milhões de euros.

Em sua defesa, Messi transferiu toda a responsabilidade para o pai, gestor da carreira dele e para quem ele assinava documentos e procurações sem ler.

Problema parecido atravessa Neymar, por causa da transferência, que teve uma série de manobras para diminuir o pagamento de impostos por parte dele e do Barcelona – que tratou também com o pai do craque.

Messi, assim como Neymar, é produto do meio. Eles foram formados vendo os dirigentes máximos com quem conviveram na juventude se utilizando do futebol para o enriquecimento pessoal. Para eles, é assim que funciona. Mas o simbolismo dos dois processos, e mais ainda da condenação de Messi, não pode ser desprezado.

O futebol, para quem está dentro dele, parece um mundo paralelo, sem lei, onde tudo é permitido e a “Lei de Gérson” é a maior de todas.

Para a fortuna de Messi, uma multa de menos de 4 milhões de euros é troco. Mas o significado disso é um exemplo que precisa ser valorizado. O maior jogador do mundo enfrentando os tribunais como qualquer mortal por sonegar dinheiro que recebeu como fruto da paixão de milhões de torcedores do Barcelona, um dos clubes mais populares do mundo.

Pelo tamanho que tem, como maior empresa de entretenimento do planeta, o futebol merece e precisa ser passado a limpo. E, sem dúvida, com Messi como réu, o futebol está percorrendo o caminho da libertação daqueles que insistem em montar barreiras para o jogo limpo.

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