Editorial.

O fenômeno dos pais-helicóptero

Publicado em 16/02/2018 às 21:32.Atualizado em 03/11/2021 às 01:24.

Recente estudo dos departamentos de Economia das Universidades de Yale e de Northwestern, nos EUA, busca comprovar o impacto da desigualdade social e econômica nas mudanças no estilo de paternidade, com o surgimento e multiplicação dos chamados pais-helicóptero, que estão sempre girando em torno de suas crias.

Segundo os pesquisadores Fabrizio Zillibotti e Matthias Doepke, a saída de uma situação de estabilidade econômica para a de crise, como o Brasil viveu e ainda vive, pode ser capaz de gerar pais superprotetores, com alto monitoramento intensivo dos filhos. Eles defendem que as condições socioeconômicas direcionam o quanto de controle os pais exercem nas escolhas dos rebentos. Em contrapartida, quanto menor a desigualdade, maior o número de genitores liberais na educação.

Apesar da pesquisa se concentrar nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), eles acreditam que a atitude dos brasileiros confirma muito bem a teoria. O Brasil é uma economia emergente com notória desigualdade de renda. Por isso, por aqui, os pais tendem a ser mais firmes. Preocupação com a violência, medo e desejo de poupar os filhos de qualquer sofrimento levam, muitas vezes, à vigilância exagerada.

Dados da World Value Survey (Pesquisa Mundial de Valores) mostram que 55% dos pais brasileiros são autoritários, 35% são autoritativos e menos de 10% são liberais. A parcela de liberais no nosso país é menor que nos Estados Unidos e ainda massivamente menor que na Europa. Na Suécia, por exemplo, cerca de 75% dos pais são classificados como permissivos.

E a superproteção pode custar caro. Geralmente, pais autoritários ou helicópteros tendem a criar crianças e jovens mais dependentes e menos criativas.

Na prática, entretanto, é difícil julgar e atirar pedras. Quem nunca buscou o filho de madrugada, depois de inúmeras ligações não atendidas? Todo pai e mãe quer, no fundo, o melhor para seus rebentos. E a busca pelo equilíbrio parece o caminho mais indicado, seja em um país pobre ou rico.

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