A indústria de fake news envolvendo a pandemia do novo coronavírus não para, apesar dos apelos de algumas autoridades. Por motivos nem um pouco nobres, inventa-se pacientes curados da Covid-19 por determinadas drogas (sempre o mesmo primo internado no mesmo hospital, que desmente a informação); resultados fantasiosos de testes e experiências; assim como relatos distorcidos, como a tentar provar que o risco é menor do que o alardeado pela imprensa; ou que há interesses escusos por trás da questão - fala-se, inclusive, num complô comunista que incluiria médicos brasileiros interessados em inflar os números de infectados e mortos.
A última novidade é a disseminação de vídeos que sugerem que a Água Tônica, inofensivo refrigerante com algumas boas propriedades, é verdade, seria um antídoto poderoso contra o coronavírus. Pelo simples fato de conter, em sua composição, o quinino, extrato vegetal de onde também saem medicações usadas contra a malária. Mais especificamente, no caso, a Cloroquina, ‘vendida’ de forma questionável, sem embasamento científico global, como o remédio mais eficiente no combate à Covid-19. O que se vê, aliás, são cada vez mais estudos científicos rejeitando sua eficácia, bem como o risco de provocar efeitos colaterais com potencial letal.
Antes que alguém possa questionar, também a Água Tônica não traz qualquer efeito no sentido de proteção ou tratamento. O risco que se tem num cenário já tão preocupante é levar pessoas aos hospitais em consequência da automedicação, ou da decisão de ignorar a recomendação de isolamento social com base em orientações falsas. Mais uma vez o cenário de outros países serve como referência validíssima em termos do potencial de disseminação da doença - e tanto melhor se o Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte não repetirem cenários como os de Nova York e do Norte da Itália.
Passa da hora de entender - e para isso não é necessário diploma em Medicina ou Biologia - que a dimensão dos efeitos do novo coronavírus dependerá do espaço que for dado para a transmissão do mesmo. E que, da mesma forma, não serão receitas caseiras ou vindas de correntes de aplicativos de mensagem que resolverão. Como não foi o caso diante de HIV, H1N1 e outros antecessores do SARS-CoV2. É preciso garantir espaço e difusão, sim, de informação embasada, técnica, correta.