O prefeito eleito Alexandre Kalil venceu as eleições com um discurso de que não é político e de acabar com as negociatas em Belo Horizonte. Mas o representante do PHS terá já nos dias seguintes à vitória um teste para ver se, na prática, consegue manter o perfil que apresentou na campanha.
As conversas para composições das secretarias e da direção da Câmara Municipal já estão a pleno vapor. No caso das cadeiras do Executivo, o prefeito tem um pouco mais de autonomia. Poderá escalar quem ele acredita que fará melhor trabalho, claro, beneficiando os que estiveram ao lado dele na campanha.
O problema poderá maior será a Câmara, responsável por aprovar ou rejeitar as propostas enviadas pelo prefeito e equipe. Espera-se de um gestor que se elegeu prometendo mudanças envio de projetos propondo os ajustes que acha necessário. Portanto, é importante ter o apoio da maioria dos 44 vereadores para garantir as aprovações. Mas PHS, Rede e PV, partidos que compuseram a chapa de Kalil, mais PR e PCdoB, que anunciaram apoio a ele , têm, juntos, apenas seis vereadores eleitos.
Kalil terá que negociar com líderes de diversas legendas esse apoio, incluindo o atual presidente do Legislativo, Wellington Magalhães, ou seja, terá que fazer política. Além disso, esse apoio normalmente se dá por meio de distribuição de cargos na prefeitura, portanto, a mesma tática do “toma lá dá cá” que o eleito condenou durante toda a campanha.
Se abrir mão de “jogar o jogo” da política tradicional e perder a confiança do Legislativo, Kalil poderá inviabilizar seu governo. Foi o que ocorreu com Dilma Rousseff, que passou a ter dificuldades imensas quando Eduardo Cunha, que presidia a Câmara dos Deputados, se tornou um opositor ferrenho. Assim como Kalil se promoveu ao eleitor, a petista também tem perfil gerencial, quase sem traquejo ou vícios políticos.
O modelo político brasileiro permite que o Legislativo paralise praticamente as ações do Executivo, mesmo contra a vontade do presidente, governo ou prefeito.
E agora? Kalil sustentará seu discurso vitorioso, podendo sofrer com má vontade dos vereadores, ou fará, logo de cara, algo diferente do que defendeu frente aos eleitores? Mesmo antes de assumir o cargo, os desafios já se apresentam para o prefeito eleito.