Editorial.

O tamanho do buraco

03/04/2016 às 20:07.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:46

O Brasil se firma como mau pagador. Se o déficit previsto na Lei Orçamentária Anual de 2016 já era assustador, de R$ 60,2 bilhões, maior ainda é a nova realidade percebida pelo governo federal. O Ministério da Fazenda fez uma revisão do cálculo e pede ao Congresso Nacional autorização para fechar o ano com número negativo de R$ 96,6 bilhões.

Não se trata apenas de um número astronômico. Ele revela também que o governo não parece levar a sério o planejamento de contas. Contou com a arrecadação da CPMF que não foi aprovada e nem será neste ano. Evidentemente seria possível, num cenário com mais controle político, que a presidente Dilma Rousseff conseguisse fazer virar realidade essa fonte de recursos. Mas qualquer analista político, dentro ou fora do governo, duvidaria dessa possibilidade. Em ano eleitoral a criação de imposto é uma das medidas mais impopulares que se pode tomar. Aprovar esse tipo de matéria num país mergulhado em crise como está o Brasil poderia significar adeus a muitos votos. Mesmo não sendo candidatos nas eleições municipais, deputados e senadores trabalham para seus aliados nas bases eleitorais e querem ficar bem com o eleitor. 

Caso fosse aprovado, o ajuste fiscal renderia aos cofres da administração federal um montante deR$ 64 bilhões

Falta tanto ao governo quanto aos parlamentares a coragem de taxação das grandes fortunas, este sim, um imposto aceito pela grande maioria da população. Mas a reforma tributária, discutida há anos no Congresso Nacional, não evolui. 

O aumento do déficit também leva a tomada de empréstimos e corte de gastos em investimentos, gerando um ciclo negativo, alerta especialista ouvido pelo Hoje em Dia em matéria nesta edição.

O pior resultado da história das contas públicas do Brasil será o carimbo num ano que não deixará saudades. Piores índices de desemprego, de fechamento de empresas, de queda de rendimento das grandes companhias, de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e outros índices contribuirão para o estigma deste ano. 

Caso fosse aprovado, o ajuste fiscal, tão defendido pela equipe econômica da presidente Dilma, renderia aos cofres da administração federal um montante de R$ 64 bilhões. 

A frustração de receita admitida pelo Ministério da Fazenda certamente culminará com novos rebaixamentos da nota do Brasil por agências de classificação de risco internacionais. Ou seja, nada é tão ruim que não possa piorar, e a economia do país sofrerá ainda maus momentos até a reversão do quadro, prevista para 2018. 

Por outro lado, o entrevistado do Página Dois, novo diretor-executivo da Fundação Dom Cabral, Antônio Batista da Silva Júnior, afirma que o momento é para as empresas investirem. Só daí virá solução para a crise. Aquelas que tiverem a ousadia de, ignorando os números negativos, alavancarem seus projetos, contribuirão, em muito, para que o Brasil saia do buraco.

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