Editorial.

Operação abafa contra a lava jato

Publicado em 30/11/2016 às 21:51.Atualizado em 15/11/2021 às 21:53.

Aquilo que vários juristas alertaram após aparecerem as primeiras reações à força-tarefa da operação “Lava Jato” se mostrou de forma mais organizada na noite dessa terça-feira. A votação de um texto que ameniza penas para os corruptos e restringe a atuação de promotores e procuradores, em um momento em que o país estava completamente chocado pelo acidente com a delegação da Chapecoense, mostrou que a atuação dos órgãos de fiscalização e do Judiciário incomodou os caciques da política nacional. Começou verdadeiramente a “Operação Abafa”.

Apesar do alerta, não se pensava que os políticos brasileiros fariam a mesma coisa que os italianos após a chamada operação “Mãos Limpas”, que desmantelou vários esquemas de corrupção naquele país e mandou muita gente graúda para a cadeira. Os que restaram no poder, aprovaram várias leis de anistia e de restrições à investigação de crimes de corrupção. As mãos da Justiça e do MP foram atadas, e a operação foi totalmente paralisada. 

Por isso, os procuradores brasileiros reagiram à altura e ameaçam renunciar aos cargos em conjunto caso o projeto, que vai para o Senado, entre em vigor. E se depender do comando do nosso Congresso, os procuradores podem já ir redigindo um rascunho da carta de demissão. 

O presidente do Senado, Renam Calheiros, é um dos principais alvos da maior operação contra a corrupção do país. São quase uma dezena de ações. Em qualquer país sério, ele já estaria, para dizer o mínimo, fora da cadeira de chefe do Parlamento. Renam é um dos principais interessados na aprovação do texto e já deu sinais que possui grande poder entre os colegas. 

A esperança é a mobilização da população. A tragédia da Colômbia deu menos visibilidade aos protestos que ocorreram na Esplanada dos Ministérios. Não que a violência, tanto policial quanto dos manifestantes, seja justificada, mas é um sinal de que pelo menos parte da população não vai engolir essa facilmente. 
Se lamentamos a ação desses grupos, temos também que comemorar o fato de, pela primeira vez na história, a classe política se vê acuada pela ação de pessoas e órgãos que combatem os desmandos de quem se imaginava inatingível pela lei. É uma tentativa desesperada de quem vê a prisão cada vez mais perto. 

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