Em várias áreas, o brasileiro parece sofrer de uma covardia velada. Não enfrentamos vários problemas de frente. Ao invés disso, vamos tentando medidas paliativas quem minimizam as consequências, e as polêmicas, como se varrêssemos a sujeita para debaixo do tapete, para que, após isso, esqueçamos que ela existe.
A adoção de um vagão exclusivo para mulheres no metrô de Belo Horizonte pode parecer bobagem ou até um capricho para a maior parte da sociedade. Mas não é. Ela é a ponta de um problema muito maior de que os críticos não se dão conta e que precisa ser debatido: mulheres estão sendo assediadas diariamente no transporte público da capital mineira. E assédio não é gracinha ou galanteio. Assédio é um ato de violência. E não precisa explicar para os homens o que é. Eles sabem.
Os números que trazemos na reportagem hoje são graves. Um serviço criado pela CBTU para que as usuárias denunciem a ação desses criminosos recebem cerca de 50 denúncias por mês, Isso dá mais de uma ocorrência por dia. Claro que há uma subnotificação, como tudo envolvendo violência contra mulher, já que não temos uma rede de proteção eficaz para garantir a segurança e o respeito a quem denuncia.
Imagine para uma vítima que precisa usar o transporte público, em que muitas pessoas circulam nos mesmos horários, cruzar todos os dias com um agressor. Quem já foi assediada também não sabe quando o ato vai ocorrer novamente.
Precisamos combater urgentemente e punir com rigor esses criminosos. Eles têm que ser identificados, presos e processados. E todos nós temos que nos proteger desse tipo de aproveitadores. Em todos os lugares.
Como bem disse uma das passageiras ouvidas pela reportagem, um vagão só para mulheres não acabará com um problema, pois o metrô é apenas um lugar em que os bandidos aproveitam. As mesmas práticas de assédio são comuns nos ônibus, táxis, em lugares fechados ou locais públicos. Adotar uma medida dessa é, certamente, a confirmação de nosso fracasso como sociedade.
Não podemos dar essa vitória aos imbecis. E os homens de bem devem garantir que nenhuma mulher sofra com os assédios. Você pode até não conhecer a vítima de hoje. Mas amanhã, a vítima pode ser sua esposa ou sua filha.