Editorial.

Os juízes do impeachment

25/04/2016 às 22:43.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:07

Se deputados que votaram pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff são alvo de investigação por corrupção, senadores não ficam atrás. Dos 21 que vão avaliar, em comissão, o processo admitido na Câmara dos Deputados, dez são investigados. E não se trata de simples especulações, de suspeitas com possibilidade de não terem fundamento. Só um deles, o senador Dario Berger (PMDB-SC), responde a 26 processos.

Evidentemente, senadores da comissão do impeachment apoiadores do governo do PT também estão envolvidos em esquemas de corrupção e respondem a inquéritos. É o caso de Lindbergh Faria (PT-RJ) – investigado em 21 casos de corrupção e lavagem de dinheiro dentro da Operação “Lava Jato” – e de Gleisi Hoffmann (PT-PR). O levantamento feito pelas repórteres Alessandra Mendes e Tatiana Moraes mostra que os juízes do processo estão longe de ter a isenção necessária a um julgamento digno. Este é o retrato do Brasil atual. São muito poucos os que escapam dos olhos da lei.

Mas não são apenas os esquemas de abuso do poder político e econômico a colocarem em dúvida a legitimidade do julgamento de Dilma Rousseff. Estamos diante também de manobras políticas que visam o bem de partidos em detrimento dos interesses do país. Nem sempre valem os argumentos jurídicos para questionar o mandato da presidente.

Com isso, Dilma já considera a possibilidade de defender novas eleições, em razão da perda de força política e, consequentemente, o risco de ingovernabilidade. Mesmo se ela passar pelo crivo dos senadores e conseguir se manter no cargo, não terá condições de chegar ao final do mandato.

Dilma já considera a possibilidade de defender novas eleições, em razão da perda de força política e, consequentemente,do risco de ingovernabilidade – mesmo não sendo aprovado o impeachment

Claro que não se pode tomar ao pé da letra a fala do ex-presidente Lula de que há no Congresso uma quadrilha cuja agenda é implantar o caos no país. No entanto, não estamos tão longe desse quadro.

Os percalços da gestão eleita em 2014 colocam o país na zona de insegurança. As constantes trocas de ministros deixam áreas importantes da gestão pública bastante vulneráveis. Se os brasileiros não conseguem saber quem são os ministros hoje e quem assumirá os cargos em pouco mais de 15 dias – caso a comissão do Senado aceite o processo de impeachment e Michel Temer assuma a Presidência – como podem confiar na administração do país?

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por