Praticamente seis meses após assumir o cargo de prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, só conseguiu levar seu principal projeto, o da reforma administrativa, para discussão final da Câmara Municipal na noite de ontem. E a sessão foi recheada de discursos e debates acalorados entre os vereadores. Até o fechamento desta edição, a discussão não havia terminado e prometia entrar pela madrugada. A confusão mostra como está a relação do Executivo com o Legislativo, que vêm prejudicando o andamento da cidade.
Kalil foi eleito com o discurso de não ser político. Por um lado, assumiu parte desse papel ao evitar o loteamento de setores e secretarias pelos partidos, por meio de nomeações indicadas por vereadores. Isso, é claro, provocou a ira de muitos acostumados com essa prática para manter o apoio na Câmara.
Se o estilo do prefeito causou uma redução na velocidade da apreciação dos projetos, pelo menos a conversa dele com os parlamentares evitou um fúria geral. Todos devem ainda se adaptar ao novo modelo.
Mas a cidade precisa de mais, quer mais de seu prefeito. Quer um projeto para o desenvolvimento e para acabar com os problemas. E, em seis meses, Kalil não conseguiu dar um indício de qual será a sua marca na administração da capital mineira.
Por exemplo, um dos avanços apontados na propaganda institucional da PBH é o repasse à Maternidade Sofia Feldman para que a instituição cobrisse dívidas mais urgentes e não fechasse leitos. Não consta em nenhum programa de governo de uma cidade do nível de BH nenhuma proposta de “socorrer hospitais filantrópicos”. Isso é apagar incêndio, passa longe de ser um projeto para a saúde. As poucas obras inauguradas foram iniciadas ou contratadas pela gestão anterior.
A crise afetou e muito a capacidade de investimento de todos os municípios, e praticamente não há recursos para novas obras, mas Belo Horizonte já poderia ter há meses uma estrutura mais enxuta que permitisse que pequenas intervenções fossem possíveis.
Kalil pode não ser o único culpado dessa lentidão administrativa, mas ele deveria analisar se esse novo modelo de política está sendo mesmo eficaz para a população, que é o que mais importa.