Numa tentativa de demonstrar que vai ouvir os trabalhadores antes de formatar e enviar ao Congresso Nacional sua reforma da Previdência, o presidente interino Michel Temer recebeu ontem os dirigentes das centrais sindicais. Falou e ouviu. Foram chamadas a Força Sindical, a Central dos Sindicatos Brasileiros, a União Geral dos Trabalhadores, a Nova Central Sindical dos Trabalhadores e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ou seja, entidades com posições divergentes em relação à troca de comando no Palácio do Planalto.
Da parte do governo, a equipe econômica teve o papel de demonstrar que as mudanças na Previdência, com alteração das regras para quem terá direito ao benefício mas já segue contribuindo, são imprescindíveis para o equilíbrio fiscal do país. Ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Trabalho, Ronaldo Nogueira, explicaram para os representantes dos trabalhadores que o caixa do Brasil não comporta mais a folha de pagamento de quem se aposentou. A idade mínima para se ter direito ao benefício vai obedecer a uma regra de transição.
A Força Sindical era a mais veemente no repúdio às mudanças nas regras, alegando que o governo Dilma já penalizou dificultando a aposentadoria. Mas não se sabe até que ponto a entidade vai brigar por isso. A CUT sequer foi à reunião, alegando não reconhecer a legitimidade do governo Temer. A entidade, ligada ao PT, será um dos sustentáculos da oposição que o partido de Dilma e Lula fará no Congresso Nacional. Não bastará ao governo interino convencer as centrais sindicais da necessidade de se promover as mudanças, terá também que conquistar aprovação dos parlamentares, da Câmara e do Senado. Considerando que a maioria votou pelo impeachment da presidente da República, é provável que as reformas sejam aprovadas. Por outro lado, pesa o fato de estarmos num ano eleitoral, em que os políticos precisarão cuidar de suas bases de apoio nas capitais e no interior, e pensarão duas vezes antes de votar a favor de medidas impopulares.
Temer tem tentado demonstrar que fará um governo democrático e é o mínimo que se espera dele. A tentativa é, inclusive, de afastar a ideia de “golpe”, tão propalada pelos apoiadores de Dilma e por ela mesma – inclusive para o mercado internacional.