Editorial.

Quem fiscalizará os jogos?

Publicado em 19/11/2016 às 22:13.Atualizado em 15/11/2021 às 21:43.

A discussão da legalização de jogos como bingos, cassinos e Jogo do Bicho vem desde a proibição das atividades, há 70 anos. Tão antiga que ninguém lembra muito bem o motivo da prática ser barrada. 

Há vários livros e reportagens da época que contam os bastidores da decisão. Pelas narrativas, foi uma medida muito mais política do que econômica ou social. Os cassinos viveram o auge no governo Getúlio Vargas (1937-1945), eram símbolo da diversão e da cultura da alta sociedade brasileira. Muitos dos principais artistas da época foram revelados nessa casas. 

Pouca gente deve saber, mas Minas Gerais foi um dos polos de cassinos no país. No Sul de Minas, Lambari e São Lourenço eram as mais procuradas. O nosso Museu de Arte da Pampulha foi projetado por Oscar Niemeyer para ser um cassino, e foi um dos mais glamourosos centros de diversão do país.

Mas Getúlio foi deposto e, na cabeça dos sucessores, tudo da sua gestão tinha que ser apagado, entre elas os cassinos, com imenso apoio da Igreja Católica. 
Desde então foram dezenas de projetos de lei tentando o retorno dos jogos, mas o lobby religioso, desta vez com reforço evangélico, sempre conseguiu barrar as propostas. Desde os anos que sucederam a promulgação da Constituição de 1988, quando houve mais uma discussão sobre o assunto, nunca o ambiente no Congresso foi tão favorável para a medida como agora. E o desespero do governo por aumento na arrecadação pode ser a ajuda que faltava para o retorno dos jogos. 

Essa pressa pode fazer com que a proposta, que pode até fazer sentido em teoria, se torne um desastre na prática. A questão é simples: quem fiscalizará os cassinos e casas de bingo? 

Os servidores da Receita federal mal dão conta de fazer o trabalho atual, com um déficit cada vez maior de funcionários e vão criar vários empreendimentos pelo país movimentando bilhões diariamente. É um caminho limpo para que organizações criminosas utilizem os jogos para lavagem de dinheiro, fazer fortunas e conquistar poder. 

Embora os ganhos tributários e de postos de trabalho sejam bem possíveis, é um risco grande a atividade sair do controle e serem criadas mais casas ilegais. É uma medida que precisa, no mínimo, de maior discussão. 

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