Editorial.

Realidade nua e crua

25/03/2016 às 19:09.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:38

Dona Maria tem insuficiência renal e seu José, marido dela, é diabético. Os dois, já idosos, moram em uma pequena cidade do interior de Minas, que mal tem recursos para suprir os cuidados da saúde básica da população. Assim, o casal tem que vir pelo menos uma vez por semana para Belo Horizonte, a fim de realizar os tratamentos necessários para continuarem vivos.

Essa minúscula história é fictícia, porém, retrata com clareza a falta de estrutura da Saúde em todo país e, também, de profissionais da área dispostos a atenderem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que não paga lá muito bem.

Na reportagem que o Hoje em Dia traz neste sábado, destacamos a defasagem da tabela e a distribuição desigual de recursos do SUS entre as cidades. Um estudo encomendado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra que metade do repasse anual do Sistema é direcionada apenas para as 26 capitais e o Distrito Federal. Os outros 50%, pasmem, fica para os mais de 5.500 municípios restantes. Um descompasso!

A divisão incorreta dos recursos convive, também, com os atrasos na destinação das verbas. Na conjuntura atual, o governo federal fez cortes e, em 2015, algo em torno de R$ 33,5 bilhões deixou de ser repassado, segundo o levantamento. O estudo destaca, ainda, a ineficiência da descentralização do SUS, que faz com que as capitais recebam uma demanda muito pesada causada pela migração de pacientes do interior em busca de atendimento.

A incapacidade financeira do SUS é discutida pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-MG), que sugere uma readequação dos valores da tabela de acordo com o porte da cidade. Para a entidade, se o déficit continuar crescente, o fechamento de unidades de saúde é líquido e certo. No caso da tabela do SUS, o Conselho Federal de Medicina (CFM) identificou que mais de 1,5 mil procedimentos hospitalares estão com valores ultrapassados.

Para o Ministério da Saúde, o financiamento da saúde pública, bem como a gestão, devem ser compartilhados entre a União, os estados e municípios, conforme manda a constituição federal. Dessa forma, não só o governo federal poderia ser responsabilizado.

A incômoda realidade é que, hoje, não conseguimos sequer proporcionar atendimento básico para os 150 milhões de brasileiros que dependem do SUS. Triste!

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