Os efeitos de uma crise desse nível pela qual passa o Brasil nunca são imediatos. Sempre vão atingindo setores diferentes, de acordo com a sua intensidade e alcance. Quanto mais grave, mais demorada e ampla é a recessão. Consequentemente, maiores são os desafios impostos aos governos para, primeiro, “estancar a sangria”, e, em um segundo momento, tentar uma recuperação paulatina da economia.
Nos últimos anos, o comércio varejista foi um dos maiores símbolos de um tempo bastante vantajoso da economia do país. O ganho de renda da população, a partir de meados dos anos 2000, fez com que o brasileiro procurasse produtos a que antes não tinha acesso, e os empresários souberam tirar proveito disso, o que causou uma explosão de vendas em diversos setores.
Pequenos supermercados se tornaram grandes. Mesmo as redes que se limitavam a três, quatro lojas por cidade, passaram a ter dezenas ou centenas de pontos de venda nas grandes capitais.
Mesmo com a diminuição do ritmo da economia, já no fim do governo Lula e início do primeiro mandato de Dilma Rousseff, o varejo foi um setor que ficou até certo ponto protegido dos solavancos econômicos. Também é completamente compreensível que o brasileiro tivesse certa resistência em abrir mão daquilo que levou tanto tempo para poder ter condições de comprar e levar pra casa.
‘A população não só deixou o supérfluo de lado, mas passa agora a comprar apenas o essencial’
Esse momento demorou, mas, de acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, chegou. A queda recorde de 9% em um balanço mensal da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em 2000 - portanto justamente antes da aceleração mais recente da economia - é a constatação de que o consumidor resolveu brecar o consumo de vez neste momento. E a previsão de um crescimento de 0,5% em 2016 revela que, até o fim deste ano, ele puxará o freio de mão. A conclusão clara é que a população não só deixou o supérfluo de lado, mas passa agora a comprar apenas o essencial, que não está barato.
As consequências disso são inevitáveis e previsíveis. A alta do desemprego deve manter um ritmo constante, gerando uma redução ainda maior no poder de compra da população e uma queda maior nas vendas, em um círculo vicioso.
O pior é que hoje não temos nem uma solução completamente confiável em curso implantada pela equipe econômica do governo. Soma-se a isso um ambiente político conturbado, que deve ter hoje, na eleição para a Presidência da Câmara, mais um capítulo que certamente renderá emoções.
Os próximos meses devem ser de mais privações e dissabores para os brasileiros.