O trânsito do Brasil é um dos que mais mata no mundo. Apenas os norte-americanos registram mais vítimas em ruas e rodovias do que nós, com população e frota imensamente superiores. Pela gravidade do quadro, deveríamos tratar as leis de trânsito com maior seriedade e evitar, assim, milhares de mortes.
Mas tudo o que diz respeito a aumento de rigor nas regras é criticado por grande parte da população. Chamam os governos de autoritários e os acusam de formação de uma indústria de multas. Ora, a multa só é aplicada em quem pratica uma irregularidade. Quem anda dentro da lei, não tem motivos para se preocupar.
Mas os brasileiros têm até certo fundamento nesta impressão. Há no país uma preocupação maior em garantir o cumprimento da punição financeira, em detrimento das civil e criminal. E os números que trazemos hoje provam isso. São mais de 32 mil motoristas que já deveriam ter a CNH cassada, mas que continuam conduzindo veículos livremente.
Mas será que algum desses condutores deixou de pagar as multas que renderam essa pontuação? A maioria, não. Isso porque o sistema é bem “amarrado” para punir financeiramente. O motorista multado fica impedido automaticamente de vender o veículo e de receber os documentos do licenciamento seguinte. Se for pego em uma blitz, o carro é apreendido na hora e o gasto se torna ainda maior.
Se esse sistema de punição imediata fosse adotado em relação aos pontos na carteira – com o condutor recebendo um aviso de que está impedido de dirigir logo após atingir o limite da pontuação, muita gente já tomaria mais cuidado para cometer a próxima infração.
Mas o sistema atual é completamente ineficaz e permite que motoristas com 40 ou 50 pontos na carteira, ou mais, dirijam carretas pelos rodovias mais perigosas do estado.
Um dos grandes problemas do país é a impunidade. Fazer o errado e transgredir as leis são práticas quase históricas. Quem as pratica quase sempre tem certeza de que não será punido.
Na política, parece que começamos a realizar uma mudança nesse comportamento, com certa resistência, claro, com prisões e perdas de mandato. Precisamos agora que o cidadão comum também reveja o seu comportamento em relação às coisas do dia a dia. Assim, formaremos uma sociedade mais humana e justa.