Editorial.

Rouanet pagou por Jurerê?

29/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:05

Quando o presidente interino Michel Temer informou sobre a extinção do Ministério da Cultura e a inclusão deste junto ao Ministério da Educação (o que pouco tempo depois foi desfeito), houve uma enorme comoção de artistas e produtores culturais que manifestaram-se contra o absurdo da atitude do peemedebista.

No entanto, uma boa parcela dos protestos, principalmente nas redes sociais, concordou com o fim da pasta usando como argumento o fim da “farra da Lei Rouanet”.

A Lei Federal de Incentivo à Cultura (chamada de Rouanet em função do sobrenome do secretário de cultura da época) foi criada no governo Collor, em dezembro de 1991, com o objetivo de instituir políticas públicas para a cultura nacional.

O principal mote da legislação é o incentivo fiscal a pessoas físicas e jurídicas que podem aplicar percentuais do Imposto de Renda em eventos próprios. A renúncia fiscal estimada com a legislação atualmente é de R$ 1,3 bilhão. 

Muitas controvérsias rondam a Rouanet no que se refere à aprovação de projetos. As propostas têm especificidades que, na maior parte das vezes, somente grandes produtoras conseguem preencher e, por isso, acabam sendo as financeiramente beneficiadas.

Outro ponto negativo é a aprovação de projetos de artistas famosos que têm altos lucros com as apresentações e, em tese, não teriam necessidade do dinheiro do governo federal.

Entre os alvos de busca da Polícia Federal está o Grupo Bellini Cultural, que atua há 20 anos no mercado e aparece como o principal operador do esquema

E parece que a “farra” ou a “caixa preta” da Lei começou a ser desvendada a partir de uma operação deflagrada ontem pela Polícia Federal de São Paulo, sabiamente intitulada “Boca Livre” (termo muito usado pelos brasileiros para contar que vão a uma festa cheia de comida e bebida sem pagar nada).

Um desvio de R$ 180 milhões de recursos públicos em projetos culturais está em investigação. Em duas capitais e no Distrito Federal, estão em cumprimento 37 mandados de busca e apreensão e outros 14 de prisão.

Documentos foram solicitados ao Ministério da Cultura, a escritórios de advocacia especializados em Lei Rouanet e empresas cujas suspeitas ou envolvimento podem ajudar a esclarecer alguns pontos para a PF.

Parece absurdo (como muita coisa no nosso Brasil), mas, dentre os eventos investigados está uma festa de casamento luxuosa realizada na famosa e badalada praia de Jurerê de parentes de um dos produtores culturais apontados de ter desviado dinheiro da Rouanet. 

No casório, show do cantor sertanejo Leo Rodriguez, que cobra entre R$ 50 mil e R$ 70 mil para cantar em um evento do porte que foi este. Em sendo verdade, é possível dizer mais alguma coisa depois de ler isso?

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por