Editorial.

Senado virou balcão de negócios

Publicado em 16/12/2016 às 23:14.Atualizado em 15/11/2021 às 22:07.

Maior operação contra a corrupção da história do país, a Lava Jato já teve 37 fazes desde 2014 quando ela foi criada. Foram tantas prisões, mandados de apreensão, conduções coercitivas, delações e condenações que muitas vezes ficamos um pouco perdidos. Somente uma retrospectiva de quais pessoas já foram investigadas talvez dê uma melhor ideia da dimensão do que está sendo apurado e de como esse esquema fraudulento pode estar inserido em algumas das principais salas e gabinetes de poderosos em Brasília. 

Um levantamento feito pelo Hoje em Dia mostra quantos políticos foram alvo da Lava Jato e quais ainda seguem ocupando cargos de importância no país. São pelo menos 35 deputados federais e nove ministros do governo de Michel Temer. Mas um número chama mais atenção: 25 senadores da República também tiveram seus nomes de alguma forma envolvidos na operação – o equivalente a pouco mais de um quarto dos parlamentares da Casa. 

O Senado sempre foi um local de trabalho dos políticos mais experientes. Muitos ex-governadores e ex-presidentes escolhem o local para se manter e conseguem se eleger até com certa facilidade. É um lugar onde poucas vezes ocorrem discussões acaloradas ou bate-bocas deselegantes. Pelo menos, não aconteciam há algum tempo. 

É de se estranhar como o Senado deixou de ser o local da revisão de projetos importantes que vêm da Câmara ou mesmo palco de grandes discussões sobre o país, para ser de certo modo um dos centros da maior investigação contra corrupção. Pelo que vemos nas apurações do Ministério Público e nas ações da Justiça, o Senado parece funcionar como um balcão de negócios com o objetivo de desviar dinheiro público para enriquecimento de políticos poderosos. 

Talvez a própria figura do presidente da Casa, Renan Calheiros, e seus vários processos abertos no Supremo Tribunal Federal exemplifiquem bem o momento que o Congresso está passando. 

Esperamos que a Lava Jato consiga cumprir o papel de investigar e punir todos os envolvidos, mesmo que haja indícios de participação de outras figurar emblemáticas da nossa política e a boa política volte a ter mais destaque do que as operações policiais. 

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