O novo ministro da Cultura, Roberto Freire, tomou posse ontem após a confusão envolvendo o ex-ocupante da pasta, Marcelo Calero, e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Com o ato, o presidente espera sepultar o assunto, que teve consequências somente para um dos lados, aquele que, em princípio, tem razão.
A denúncia de Calero sobre a pressão de Geddel para liberação da construção de um empreendimento que poderia causar danos ao patrimônio cultural de Salvador é extremamente grave. Geddel nega que tenha pressionado o colega, mas admite que “ponderou” sobre a necessidade de liberação da obra, por considerar a posição de um ministro da Cultura “equivocada”.
Ora, somente o fato do chefe da Secretaria de Governo, que fica no mesmo prédio do gabinete da Presidência da República, que funciona como uma espécie de primeiro ministro, ponderar sobre um parecer técnico de outro órgão, já pode ser configurada uma espécie de pressão, ou, no mínimo, uma atitude inadequada.
Mas Temer preferiu aceitar, sem muito constrangimento, as explicações do subordinado mais próximo e não mover uma palha por Marcelo Calero.
Em qualquer país que tenha o mínimo de seriedade, Geddel já teria entregue a carte de renúncia horas depois da denuncia vir à tona. Mas estamos no Brasil, o país onde que isso tudo sempre foi normal. Talvez o governo acredite que o fato será esquecido daqui a algumas semanas.
Mas Temer escolheu um caminho de risco neste momento. Sua antecessora foi retirada da Presidência por irregularidades cometidas no governo, já enfraquecido por escândalos de corrupção. Mantendo Geddel no gabinete do lado, ele mantém uma pessoa suspeita de fazer algo não compatível com o cargo que ocupa muito próximo. No caso de outro escândalo, a ligação do presidente com o ministro certamente será lembrada.
O governo perdeu mais uma vez a chance de mostrar para a população que é diferente e que não corrobora com atos ilícitos. Se o povo já perdeu a confiança no que o PT diz, não será difícil tomar a mesma atitude em relação ao PMDB caso outros desvios sejam empurrados para debaixo do tapete do Planalto.