Editorial.

Tragédia na creche Gente Inocente

Publicado em 05/10/2017 às 20:03.Atualizado em 02/11/2021 às 23:05.

Gente Inocente. Esse era o nome da creche em Janaúba, onde crianças foram vítimas de um ataque sem precedentes no Brasil. Um ato de loucura, total insanidade e crueldade que chocou todos nós, de norte a sul do país. Impossível conter as lágrimas diante de tantas pequenas vidas perdidas e famílias inteiras dilaceradas para sempre. 

A tragédia só não foi pior graças ao ato heroico da professora Haley Araújo, de 43 anos. Antes de o vigia da escola, Damião Soares dos Santos, também atear fogo e álcool ao corpo dela, Heley ordenou que os meninos e meninas, com idades entre 4 e 6 anos, deitassem no chão. Numa tentativa desesperada, jogou-se por cima das crianças, buscando abafar a voracidade das chamas. Essa atitude, talvez, tenha sido suficiente para evitar a morte de algumas delas. 

A perícia policial indica que o vigilante fechou três salas da creche, onde havia entre 55 a 60 pessoas, a maioria menores. Tudo indica que o crime foi premeditado. 

Outras tantas crianças estão hospitalizadas, com até 90% dos pequenos corpinhos queimados. Guerreiras e donas de uma força que muitos adultos desconhecem, lutam para sobreviver.

Heley começou há trabalhar na creche Gente Inocente há pouco mais de um ano. Mas sempre dedicou às salas de aula e à educação infantil. Além das graves queimaduras, também já sentiu na pele o sentimento de dor que é o de ser obrigada a se despedir precocemente de um filho. Perdeu um bebê afogado na piscina. Isso há mais de uma década. A professora ainda é mãe de outras três crianças. 

Infelizmente, apesar de todos os esforços, a mestra tão querida na escola não conseguiu salvar Juan Miguel, Juan Pablo e Ana Carolina, todos com apenas quatro anos. Mal começaram a vida e foram arrancados de suas famílias de uma forma tão absurda, tão violenta, tão surreal. 

Em comum, as crianças tinham a alegria de viver, o gosto por brincadeiras e guloseimas, a inocência. Ah, a inocência. Aquela que jamais deixou que as crianças e qualquer outra pessoa imaginasse que o vigia seria capaz de tamanha brutalidade. Faltam razões e explicações. Sobram dor, indignação, saudade, desespero. A casa e o colo vazios. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por