Editorial.

Um governo para o mercado

12/05/2016 às 21:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:24

A formação do ministério e o anúncio das primeiras medidas do presidente interino Michel Temer (PMDB) levam a uma tentativa de agradar ao país – ao menos à parcela do país que votou, se manifestou e se posicionou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff – e indicar a retomada do crescimento econômico, de braços dados com o mercado. Embora tenha falado em “religação” de toda sociedade brasileira, fazendo alusão ao significado de “religião”, o discurso foi claramente pela privatização. Isso era o que o mercado queria ouvir. O presidente interino propõe manter nas mãos do Estado saúde, educação e segurança, cedendo o restante ao mercado.

Na visão do mercado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fará bem ao país, com seu perfil meio técnico meio político. É tão bom articulador que já foi eleito deputado federal pelo PSDB e acabou presidente do Banco Central durante oito anos no governo Lula, convivendo, à época com bons indicadores financeiros, como queda do dólar e inflação dentro da meta. 

O perfil conservador do governo é perceptível na composição do ministério e no discurso de Temer. Chamou a atenção e repercutiu muito mal o fato de não haver uma única mulher no grupo anunciado ontem. O fim do Ministério da Cultura também gerou inúmeras críticas, uma vez que os defensores do desenvolvimento a longo prazo apregoam a ideia de que educação e cultura são essenciais. Com elas, o nível crítico do povo brasileiro galgará patamares em que os maus políticos não terão vez. Sendo um ministério só para as duas áreas, ambas serão inevitavelmente enfraquecidas. 

A redução do número de ministérios é um esforço de redução de gastos que merece aplauso, mas as fusões podem desorganizar o funcionamento da gestão administrativa e isso terá que ser analisado pelo governo. 

No discurso de posse, Michel Temer falou nos dois polos: de produtores e de trabalhadores. “O cidadão só terá emprego se a indústria, o comércio e serviços estiverem indo bem”, ponderou, ao mesmo tempo prometendo manter os programais sociais por ser o Brasil um país pobre. O Brasil não é de fato pobre, mas sofre uma desigualdade de renda histórica e nunca atacada realmente pelos governos. Por isso os programais sociais, que cresceram muito no governo do PT, tornaram-se necessários.

Dessa forma, temos agora um governo bem distinto daquele para o qual Temer foi eleito, como vice de Dilma.

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