Editorial.

Universidades mais diversas

18/08/2016 às 20:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:26

O Brasil possui grandes problemas estruturais e sociais. Educação de baixa qualidade, sistema de saúde deficiente, renda concentrada, etc. Os desafios são tão grandes que não dá para resolver em um, dois ou três mandatos de um presidente. Embora atitudes possam ser tomadas agora – aliás, já passaram da hora – seriam necessárias décadas para que resultados positivos sejam realmente alcançados. 

Mas o que fazer com as pessoas que já sofrem com esses problemas? Afinal, investir em educação somente em longo prazo excluiria milhões de pessoas que são jovens e que não tiveram oportunidades quando cursaram escolas de baixa qualidade. Essa correção imediata se faz com programas específicos. 

É o que ocorreu com os programas de cotas nas universidades brasileiras, iniciados a partir de 2003. Mesmo que as universidades recebessem todos os recursos possíveis, e que merecem, levaria muito tempo para que elas chegassem a um nível próximo do ideal. Além disso, corríamos o risco de ampliar as instituições públicas para que os jovens mais ricos, que tinham condições de pagar boas escolas e cursos preparatórios, ocupassem as cadeiras, deixando os mais pobres de fora. Seria uma falha grave. 

“O objetivo foi cumprido: as iniciativas permitiram que várias pessoas que não tinham condições de essa chance”

  

A política de inclusão não deixou que esse quadro se concretizasse, não há como negar. Dados apresentados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) ajudam a confirmar a situação. O número de negros fazendo curso superior triplicou, e o de pardos mais que dobrou. Ou seja, o objetivo das cotas foi cumprido: as iniciativas permitiram que várias pessoas que não tinham condições de acessar uma universidade conseguissem ter essa chance. E um país que evolui socialmente é aquele que oferece oportunidades de crescimento aos seus habitantes. 

O que preocupa é que não houve complementação a essas políticas que trataram de problemas emergenciais, e elas deixaram de ser algo transitório e passaram para principais alternativas. Lá se foram mais de dez anos, e a educação básica não recebeu investimentos que mudassem a qualidade do ensino para que, lá na frente, quando o estudante atingisse a idade universitária, não precisasse que sistema de cotas ou outros projetos para ingressar em um curso superior. 

Uma reforma do ensino fundamental precisa ser iniciada o quanto antes para, realmente, aumentar a qualidade da escola brasileira. Enquanto isso não ocorre, o sistema de cotas e outros programas sociais terão que ser mantidos para corrigir essa distorção e garantir o direito de acesso à universidade para todos que queiram. 

 

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