Editorial.

Vítima do próprio veneno

Publicado em 08/07/2016 às 06:00.Atualizado em 16/11/2021 às 04:12.

Após oito meses manobrando prazos, votações e procedimentos internos da Câmara dos Deputados, e pouco mais de 20 dias de afastamento da presidência da Casa, o superpoderoso peemedebista Eduardo Cunha renunciou ao cargo nessa quinta-feira.

De um deputado aclamado por muitos brasileiros em manifestações por ter iniciado o processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff, Cunha passou a desgosto nacional depois de ser denunciado pela “Lava Jato”, suspeito de atos ilícitos que desviaram somente para ele, pelo menos, R$ 70 milhões, segundo levantamento do Hoje em Dia

Mas o desgosto não foi gerado apenas pela denúncia. O que levou a essa reação dos brasileiros foi a quantidade de vezes que Eduardo Cunha se esquivou dos processos abertos contra ele. Mesmo sendo um estrategista nato, o deputado federal ficou tempo demais na “crista da onda”, fazendo com que ele provasse do próprio veneno.

O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), convocou para o dia 14 de julho, próxima quinta-feira, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados; só da base governista, 12 têm interesse em ocupar o cargo

Com a renúncia, Cunha é beneficiado. Ganha mais tempo para sua defesa e foge do plenário do Supremo, numa tentativa de preservar seu mandato. Em resumo, preferiu manter o mandato do que o posto mais alto da Casa Legislativa e um cargo que participa da sucessão presidencial.

Nessa “estratégia” lançada ontem, o peemedebista perde um pouco da visibilidade que ganhou nos últimos tempos, enquanto o Brasil assistia ao seu show de manobras radicais. Para o Planalto, a saída dele da presidência abre uma chance para Temer tentar colocar alguém de sua confiança (e que o apóie) no posto.

Agora, é preciso que fiquemos atentos aos bastidores da Câmara dos Deputados para entender se Eduardo Cunha exercerá algum tipo de poder ou manobra na decisão da Casa sobre o novo presidente. Vale lembrar que quem assumir a cadeira irá participar ativamente do período da saída definitiva ou não da presidente afastada Dilma Rousseff.

Ontem mesmo os partidos já iniciaram as conversas internas para definir qual deputado irá disputar os votos dos parlamentares. Entre os nomes cotados para assumir o cargo deixado por Cunha, há aliados do deputado afastado. Será que com todo o poder que tem, conseguirá eleger um sucessor?

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