A arte de fazer tijolos

Jornal O Norte
08/06/2007 às 14:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:06

Transformando o barro para


formar um produto de mercado

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

O negócio começa cortando barro, jogando água, misturando com cinzas até se tornar um produto para o mercado. É assim que se faz o tijolo nas olarias de Montes Claros, especialmente no bairro Carmelo.

O tijolo é usado na feitura de parede térmica, cisternas, caixa de esgoto, churrasqueira entre outros.




Cada oleiro produz cerca de mil tijolos por dia e os


comercializa com os depósitos de construção


(fotos: Wilson Medeiros)

O ofício foi aprendido desde a infância, segundo o oleiro Afonso Aparecido Andrade. Ele trabalha há 15 anos nessa profissão e diz que não pensa em parar de produzir seus cerca de 1.200 tijolos diários. Trabalha umas dez horas por dia e divide um espaço com outros oleiros; uma média de 10 que também ganham a vida fazendo tijolos.

Cada oleiro produz cerca de mil tijolos por dia e os comercializa com os depósitos de construção, que geralmente compram o milheiro a R$ 120. Pelo que explicaram, a única coisa que compram são as cinzas e a lenha para aquecer o forno, que leva um dia inteiro para alcançar a temperatura desejável para queimar os tijolos.

O forno é artesanal e as pessoas também compram o produto para construir churrasqueiras e fornos em suas casas.

Para Afonso, que já trabalhou em outros ramos e, ainda, foi funcionário de uma empresa que trabalha com produção de ovos em Montes Claros, a vida como oleiro vale mais a pena, apesar de a prefeitura em outros mandatos já ter embargado o local por ser patrimônio municipal.

A renda mensal de Afonso varia muito segundo ele, mas geralmente consegue tirar um lucro de até R$ 1mil. Já Joel Luiz Ferreira, também oleiro há 30 anos, diz que sustenta sua família com o que ganha e como são muitas pessoas trabalhando com ele, tira em média R$ 380 mensais.

Joel comenta que a tarefa mais difícil é amassar o barro. Logo em seguida os oleiros colocam a massa dentro das formas e põem para secar. Vale lembrar que a secagem demora pelo menos cinco dias e só então é levada ao forno. O oleiro diz que ainda se tem que contar com os prejuízos, porque quando os tijolos vão ao forno podem estourar por causa da temperatura elevada, além de quebrar se não houver cuidados ao transportar.

Parece que o ofício de oleiro é mesmo uma tradição familiar. Pelo menos foi seguindo os passos do pai que fazia telhas em Glaucilândia e assim, logo aos 13 anos, Afonso já usava suas mãos para fazer seus primeiros tijolos. A habilidade, de acordo com os oleiros, conta muito.

O que também pode acabar com os dias de serviço desses trabalhadores que atuam na informalidade são as chuvas. Apesar de ela encher os buracos que aproveitam para feitura do barro, também inunda o ambiente de trabalho e às vezes acaba com a produção que levou dias para ser feita. Vale lembrar que o ambiente de trabalho é ao ar livre e a maioria dos oleiros não têm local apropriado para armazenar seus tijolos.

- Quando chega o período das águas o jeito é ficar esperto para não perder nosso trabalho.

No Carmelo, exatamente no minador onde trabalham, o cálculo é que o barro ali presente só dure uns dois anos. Daí os trabalhadores deverão procurar outro lugar para trabalhar e assim sustentar sua família.

No tempo de chuvas os oleiros fazem bicos como serventes de pedreiros, roçam manga, entre outras atividades.

O OFÍCIO

Segundo a revista museu, a olaria é uma das técnicas mais antigas e um dos autores, Rodrigo Banha da Silva, faz um enquadramento, recompondo parte da história da modelagem do barro que envolve a olaria medieval e a olaria dos descobrimentos do Vale do Tejo.

Os portugueses são peça fundamental na história da olaria e por isso alguns escritores dizem coisas belas sobre o ofício:

Talvez o encanto da olaria seja derivado da magia da sua criação. O sabermos ter sido, numa fase de gestação, matéria dúctil que facilmente obedece ao tacto das mãos, que se pode modelar e voltar a modelar, e que, pela ação do fogo se transforma em matéria consistente, imutável, mas, simultaneamente, frágil e quebradiça.

Talvez o encanto da olaria seja sensorial. Uma bela peça de barro, como uma bela peça de escultura, convida-nos a senti-la, a afagá-la, a passar sobre ela as mãos, sentindo o seu peso, a sua ondulação, a rugosidade ou a maciez da sua superfície.

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