À caça de concursos: desemprego em alta leva trabalhador a apostar na oferta de empregos públicos

Paulo Henrique Lobato
Publicado em 12/07/2019 às 19:52.Atualizado em 05/09/2021 às 19:31.

Sulamita Sineana, de 24 anos, se formou em psicologia há um ano e, desde então, se esforça para garantir uma vaga de trabalho. “Difícil conseguir. Tanto na minha área quanto em outras”. Assim como ela, 211 mil mineiros – ou 17% da população desempregada – estão à procura de uma oportunidade no mercado formal há pelo menos 12 meses, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Diante do exército de desempregados, que em Minas soma 1,2 milhão de pessoas, tanto a jovem quanto uma multidão viram nos concursos públicos a chance que resta de entrar – ou voltar – ao mercado de trabalho. 

Resultado: escolas de cursos preparatórios precisaram abrir classes extras para atender a nova demanda, que vai batalhar ponto a ponto vagas cada vez mais raras no serviço público. 

Em Belo Horizonte, o filé da vez é o certame da Guarda Municipal (500 vagas). As inscrições para o concurso foram encerradas na terça-feira passada e atraíram mais de 100 mil candidatos, o que dá uma média de 200 pessoas disputando cada um dos postos. Mas a procura por cursinhos não para. Sulamita é uma que tentará a sorte na corporação municipal, cujo salário chega a R$ 2.869,37, devido ao acréscimo com adicional de risco e gratificação de disponibilidade integral.

Ela se matriculou no Pro Labore, onde Arthur Vilaça Cruz, um dos coordenadores, contou que a empresa abriu mais de 30 turmas voltadas só para a corporação da capital mineira.

“Com o desemprego em alta, muita gente cansou de procurar vaga no mercado formal e passou a enxergar o futuro no concurso público. Abrimos mais de 30 turmas só para o concurso da Guarda Municipal, sendo mais de 20 com aulas presenciais e mais de dez no modo on-line”, disse Cruz.

No Mega Concursos, o número de turmas quadruplicou devido ao certame da Guarda Municipal. “O pessoal não está podendo ver um edital”, diz o professor Marcelo Cury.

“A situação econômica do Brasil está muito complicada, com o comércio parado. Até quem está empregado na iniciativa privada está com medo de perder o posto. As empresas estão demitindo para cortar custos. Para outros concursos cujos editais não foram publicados já há procura aqui no Mega. E olha que muitos cursos preparatórios não são baratos, porque exigem uma carga horária grande. Mas o desemprego está alto”, diz Cury.

De acordo com o IBGE, 900 mil pessoas estavam procurando emprego no Estado havia mais de um mês, na última pesquisa, referente ao primeiro trimestre de 2019.

Concurseiro deve estar atento a edital para não cair em ciladas

Investir na “profissão” de concurseiro não é barato: há custo com cursinhos, livros, viagens, alimentação, hospedagem etc. Por isso, é bom checar se os concursos são sérios, pois há ciladas, segundo alertam entidades que fiscalizam provas aplicadas para ingresso no poder público.

“Se há cadastro de reservas fique esperto. Pode ser pilantragem. Aqui no ABC Paulista, por exemplo, há um município que publicou repetidos editais e não convocou os aprovados. Se isso acontece aqui, região que é o olho do furacão, ao lado da cidade de São Paulo, você acha que não acontece em rincões do Brasil?”, disse Eduardo Ferreira, da Associação Brasileira de Concursos Públicos (ABCP).

Uma das saídas pode ser a aprovação do Estatuto do Concurso Público, que tramita no Congresso Nacional a passos de tartaruga, mas que, agora, pode sair do papel em razão de o relator, o ex-juiz e hoje deputado federal Luiz Flávio Gomes (PSB-SP), ter a causa como bandeira.

O Estatuto, na prática, irá regulamentar pontos do artigo 37 da Constituição Federal. “É preciso regulamentar, por exemplo, o prazo entre o lançamento do edital e a realização das provas. Da mesma forma, tratar da questão de candidatos que são parentes de quem organiza o concurso. E o caso das gestantes em concursos que exigem provas físicas? Vários pontos precisam ser regulamentados”, defendeu Renato Saraiva, presidente da Associação Nacional de Apoio aos Concursos e Exames (Aconexa).

Saraiva está animado com a aprovação do Estatuto: “Após a votação da reforma da Previdência, haverá a da Tributária. A expectativa é que o Estatuto seja em 2020”.

Para ele, há “muita preocupação pois se inicia uma era de cargos comissionados em detrimento dos concursos públicos. Muitas vezes, estes cargos em comissão servem de barganha eleitoral”.

Interior

Enquanto os concurseiros precisam estudar bem os editais para não caírem em golpe, o interior de Minas Gerais está com vários editais publicados.Prefeituras de diferentes regiões estão com mais de mil postos abertos para diferentes cargos em concursos públicos que vão do ensino fundamental ao superior.

Em Muriaé, na Zona da Mata, a prefeitura oferece 52 vagas abertas. O vencimento pode chegar a R$ 6.719,34.

Já o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Rede de Urgência do Norte de Minas Gerais tem 97 vagas para diferentes cargos, entre eles enfermeiro e médico. O vencimento varia de R$ 1.100 a R$ 5.500.
 

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