A instrumentista Maria Bragança representa Minas em evento internacional

Pedro Artur/Cinthya Oliveira/Hoje em Dia
14/08/2014 às 07:40.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:47
 (Ana Valadares)

(Ana Valadares)

O saxofone de Maria Bragança está em alta. A instrumentista se prepara para tocar – ao lado de Maria Teresa Madeira (piano), Eduardo Lima (contrabaixo) e Marco Lobo (percussão) – no 6° “Encontro Internacional de Saxofonistas”, em Tatuí, interior paulista, um dos mais importantes da América Latina. Na apresentação – sábado, às 17h, no Teatro Procópio Ferreira –, ela vai mesclar choro e valsa ao jazz europeu dos anos 1970 – que deu uma nova impulsão ao ritmo.

A saxofonista conta em detalhes como será a participação. “Na primeira parte, com a Maria Teresa, vamos executar um concerto bem brasileiro em torno de obras de Radamés Gnattali, Pixinguinha e Ernesto Nazareth, mais composições autorais, como ‘Chorando de Alegria’ (parceria de Maria Teresa e Marcio Dorneles) e uma valsa minha, ‘Barro-Oco’, nome do meu primeiro CD, inspirada em um poema de Adélia Prado”, explica.

A sequência, diz Bragança, terá, então, referências aos grandes jazzistas europeus, casos de Eberhard Weber, Jan Gabarek, entre outros, intercalando com Villa-Lobos. “(Na segunda parte) toco com dois parceiros, o Marco Lobo e o Dudu Lima. É um programa híbrido, tem muita improvisação e toco (também) composições minhas, como ‘Ciranda’ e ‘Memórias, Melancolias e Melancias’”.

Intercâmbio cultural

Maria Bragança destaca o caráter universal e de intercâmbio do encontro em Tatuí, cuja primeira edição remonta a 2004. “São referências como saxofonistas. É como se fosse uma feira de alguma coisa, um festival com suas várias demonstrações e intercâmbios. Você pode ver de perto alguém da China, um argentino. Cada um vem com a sua linguagem, e assim apresento meu trabalho numa linguagem entre o erudito e o popular”, enfatiza.

Além dela e o do trio, vão passar por Tatuí mestres como o norte-americano Dale Underwood, o argentino Emiliano Barri, o espanhol Pedro Saxo e o brasileiro César Roveri, entre outros.

Com vários trabalhos lançados, a saxofonista não esconde a ansiedade para participar do encontro, sobretudo por ser a única representante de seu estado. “Me escolheram para representar Minas Gerais, estou nervosa. Mas é legal ser reconhecido na área da gente, isso é gratificante, principalmente por Tatuí ser uma referência em sopros”, analisa.

Um samba-jazz com jeitinho mineiro

Enquanto Maria Bragança alça voos para além das Alterosas, outros nomes dos metais preparam novidades. Um exemplo é a dupla Breno Mendonça e Wagner Souza, parceiros desde a adolescência, tocando em bandas de Juiz de Fora (cidade natal de ambos). O encontro entre saxofone e trompete rendeu o álbum “Jazz Sambô”, que será lançado na próxima terça-feira, no anfiteatro do Pátio Savassi, dentro da edição 2014 do “Savassi Festival”.

O samba-jazz é a sonoridade escolhida para o repertório do álbum: o primeiro disco de Wagner e o segundo de Breno – que já havia feito “Na Contramão”.

“O nome é uma brincadeira com a ideia de samba-jazz e com a pergunta ‘você já sambou?’”, diz Wagner Souza. “O samba-jazz é uma sonoridade que nasceu no Rio de Janeiro e lá foi difundido e não há muita gente fazendo isso em Minas. Por Juiz de Fora ser mais próximo do Rio, nós fomos influenciados mais rapidamente por esse estilo”, explica.

Uma mostra clara de como o samba-jazz é a espinha do primeiro trabalho da dupla é a composição “Roditi”, uma homenagem ao trompetista Claudio Roditi, o maior responsável pela difusão do samba-jazz na América do Norte e na Europa.

Nata

O disco começou a ser gravado no final do ano e contou com a base que costuma se apresentar com a dupla em diversas ocasiões: Samy Erick (guitarra/violão), Bruno Vellozo (baixo acústico) e Gladston Vieira (bateria).

Houve ainda participações de peso da nata do jazz local: Chico Amaral, Eneias Xavier, André Limão Queiroz, Beto Lopes e Juarez Moreira. E do trompetista Moisés Alves, um paraibano radicado em Brasília.

“A nossa vontade era de gravar o disco e lançá-lo da melhor forma possível. Ficamos muito felizes pela oportunidade de lançar no Festival, que tem uma divulgação que vai além de Belo Horizonte”, afirma Wagner, que participa do “Savassi Festival” em outro projeto.

No dia 22, no Café com Letras Savassi (rua Antônio de Albuquerque, 781), acontece a estreia do Wagner Souza Septeto, com quatro metais, guitarra, baixo e bateria. “É uma sonoridade nova na cidade. A nossa inspiração é o projeto Septeto SA que se apresenta toda segunda-feira na Vila Madalena, em São Paulo”.

Breno Mendonça e Wagner Souza no Anfiteatro do Pátio Savassi (av. do Contorno, 6061). Na próxima terça-feira, dia 19, a partir das 20h. Entrada franca

SAIBA MAIS

Evento vai ocupar 11 espaços da cidade

A edição 2014 do “Savassi Festival” tem início neste sábado e segue até o dia 24. O evento vai ocupar
11 espaços diferentes da capital mineira, incluindo o Parque Municipal, o Grande Teatro do Palácio das Artes e a rua Antônio de Albuquerque (para a tradicional festa na rua). A programação completa está no portal hojeemdia.com.br

 Minas pode se tornar celeiro de saxofonistas

Maria Bragança acredita que, de uns tempos para cá, houve uma evolução na cena musical em Minas Gerais para os profissionais do instrumento que resolveu abraçar, o saxofone. “Em Belo Horizonte melhorou muito. Tem uma escola, duas universidades, tem disciplina de saxofone. Temos muitos bons saxofonistas, sem falar da nossa tradição com as bandas do interior. Temos uma escola em Ouro Preto e em São João del- Rei, que estão formando muitos profissionais”, exemplifica, acrescentando que espera por novas “melhorias”.

“É um instrumento relativamente novo, surgiu no final do século 19, e estar numa universidade já é uma conquista”.

No entanto, para ela, ainda não se pode dizer, com certeza, que Minas seja um “celeiro”. É preciso, segundo ela, mais investimento. “Minas é um celeiro de guitarristas, de saxofonistas é algo novo. Temos o Chico Amaral criando uma linguagem, mas ele já é uma referência. E muitos outros. Apesar de todas as dificuldades que o Rio de Janeiro tem, por ter sido capital do país, está em melhor situação. Fui tocar lá num espaço alternativo e tinha uma rádio MEC para gravar. Aqui, ainda não amadureceu, falta investimento nessa área musical”, ressalta Bragança, que aponta também para o descaso com os conservatórios.

AGENDA E PROJETOS

Mas, particularmente, ela só tem a comemorar neste ano. Sua agenda está lotada até outubro – há possibilidade de encaixar uma data ainda no final do ano, para uma apresentação em Fortaleza.

Depois de Tatuí, Bragança volta a Minas para dois concertos “Chorando Jazz”: dia 23, no Vale Verde Alambique e Parque Ecológico, em Betim, e, no dia seguinte, na Igreja Matriz de Tiradentes. Em setembro, segue para uma apresentação no Rio de Janeiro e, em outubro, é solista convidada da Sinfônica da Bahia. Na sequência, ruma para João Pessoa.

A saxofonista ganha forças para dois projetos previstos para o ano que vem. Ela pretende lançar um CD em parceria com a pianista Maria Teresa Madeira ao estilo bem brasileiro, com choro e valsa. E outro de ambas com Eduardo Lima. Bragança lançou seu último CD, “Trova Brasileira”, em 2005.










 

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