A magrela de Espoletão

17/06/2017 às 00:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:07

Falar de futebol é bom. Mas contar histórias dos grandes personagens do futebol as vezes é melhor ainda. Quem não se lembra do roubo relâmpago do Bonga-Móvel, mobilizando mais da metade da cidade, sendo o corcel branco 73, encontrado à noite depois de ter sido larapiado no mesmo dia me provocou reflexões profundas sobre a Montes Claros que vivemos.

Ainda bem que o ladrão teve consciência de que havia afanado um patrimônio histórico-cultural-esportivo de nossa cidade e devolveu ao seu legítimo dono.
O fato me mostrou os tempos modernos em que vivemos.

Como bem disse o poeta: “o tempo voa... escorre pelas mãos mesmo sem se sentir”.

Eram meados de 1984.

Eu seguia os passos firmes de meu pai, exímio pintor de paredes e automotivo. Por seu profundo conhecimento em sua profissão, meu pai, o saudoso Nilson
Espoletão sempre teve como clientes grandes amigos de nossa sociedade. Por conseguinte, suas empresas.


No dia deste fato, meu pai pintava as instalações do antigo Banco Real, que, juntamente com o também extinto Banco Nacional, tinha sua agência na esquina das Ruas Padre Augusto e Doutor Santos

Espoletão possuía uma bicicleta sueca ano 1954, mais do que conhecida na cidade.

Indicando a profissão que tinha, ela era suja de tinta. Qualquer pessoa que a visse, sabia que aquela era a bicicleta de “Nilson Espoletão”.

As manchas de tinta viraram indicadores e marca registrada.

Ele a colocava sempre sem trancar, no poste que fica ali quase no cruzamento das duas esquinas, sempre que ia administrar a turma de pintores que comandava no trabalho de reforma do banco. Num belo dia, apressado, saiu para subir a rua Padre Augusto para despachar com Mércio Guimarães, na antiga empresa chamada Setel Empreendimentos, um serviço que iriam tocar no distrito industrial. Era 1 hora da tarde e meu pai saiu apressadamente para essa obra só retornando por volta das 9 da noite, posto alguns problemas enfrentados na obra. O engenheiro e amigo Geraldo Mércio o deixou em casa. Meu pai entrou, tomou banho, jantou e só depois de muito tempo se deu conta de que havia esquecido a velha companheira sueca sem cadeados na porta do Banco Real. Saiu desesperado de casa. Entrou em sua Rural branco-marrom e descambou para as esquinas da Padre Augusto e Doutor Santos. Qual não foi a surpresa dele ao encontrar a velha bicicleta, quieta e solitária, encostada no mesmo lugar que havia deixado, sentinela do dia sem que ninguém nela tocasse.

Colocamos a sueca no porta-malas e fomos pra casa felizes, para mais uma noite tranquila de sono.

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